Introdução
Por: Natália Corbello Pereira natacorbello@gmail.comAluna de Letras-Bacharelado em TraduçãoOrientadora: Liliam Cristina MarinsDos gêneros com os quais um tradutor pode se deparar no exercício da sua profissão, o poema aparenta ser, a princípio, um dos mais desafiadores e o causador de uma boa dose de insegurança. Nele, forma e conteúdo se integram de modo tão indissociável, aproveitando o que há de melhor nas particularidades de cada língua, que chegam mesmo a inspirar considerações sobre a sua “intraduzibilidade”. É nesse sentido que Jakobson fala de “transposição criativa” e Haroldo de Campos fala de “transcriação” ao se referirem à tarefa de traduzir poemas – diferenciando-a da “tradução” propriamente dita em um movimento de exclusividade que, se não é totalmente justo, ao menos serve para enfatizar o esforço criativo que essa atividade exige de seus praticantes.
Essa tensão entre forma e conteúdo está no cerne da dificuldade que atravessa a atividade. Se o ideal, na tradução, seria que ambos fossem perfeitamente conciliados, na prática, isso nem sempre é possível. Essa impossibilidade faz surgir o questionamento: quais das partes do poema, se seus aspectos rítmicos e fonéticos, ou se a construção de seu campo semântico, são aquelas que o definem como tal? Quais são essenciais e quais são negociáveis? Quais deveriam ser priorizadas no momento da tradução? A resposta é, talvez, mais simples do que parece: como em qualquer tradução, é o tradutor quem precisará escolher suas prioridades, pautando-se no contexto sociocomunicacional no qual está inserido e no seu encargo tradutório. Cada tradução de um poema será, portanto, influenciada por aspectos que envolvem desde considerações sobre o seu público-alvo previsto e os efeitos de sentido buscados na recepção do texto, até considerações sobre os objetivos e desejos do cliente e os meios/mídias nos quais a tradução circulará.
Quando o assunto é, mais especificamente, a tradução de poemas infantojuvenis, a especificidade do público-alvo tem um grande peso sobre o encargo tradutório. A função lúdica que acompanha esse tipo de literatura, que molda sua recepção e impacta diretamente sua fruição, é conjuntamente construída a partir de elementos como ritmo, rima, sonoridade e musicalidade (no plano da forma) e imagens, metáforas e contrastes (no plano do conteúdo). Nesse caso, o tradutor também precisará escolher suas prioridades, e o fará sempre pensando em manter o apelo ao público infantojuvenil e à função lúdica que é própria dessa modalidade literária.
E como equacionar todos esses fatores na materialidade da prática tradutória? À guisa de exemplificação, publicaremos aqui, no Mastigando Letras, os resultados de um exercício realizado no decorrer da matéria de Práticas de Tradução II – Tradução do Texto Literário pela turma de bacharelado do ano letivo de 2020, sob orientação da Profa. Dr.ª Liliam Cristina Marins. Como parte da matéria, cada aluno teve a oportunidade de traduzir um poema de Sérgio Capparelli retirado do livro 111 poemas para crianças. Nas postagens subsequentes, os leitores poderão encontrar muitas abordagens diferentes para a execução dessa tarefa tão complexa que é a tradução de poemas infantojuvenis, marcadas ora por uma maior ou menor fidelidade em relação ao texto-fonte, ora por uma maior ou menor priorização dos aspectos formais/semânticos do texto. Todas, no entanto, compartilham um mesmo o objetivo: o de entreter e dialogar com o público-alvo, apresentando-se como textos literários esteticamente autônomos. Esperamos que a diversidade dos produtos finais apresentados aqui sirva para demonstrar o leque de possibilidades que se abre ao tradutor durante a tarefa da tradução de poemas – e, paralelamente, as muitas soluções possíveis para contornar os obstáculos que são tão próprios dessa atividade.
Leituras recomendadas
AZENHA JUNIOR, João. Tradução & literatura infantil e juvenil. In: AMORIM, Lauro Maia; RODRIGUES, Cristina Carneiro; STUPIELLO, Érika Nogueira de Andrade (Orgs.). Tradução &: perspectivas teóricas e práticas. São Paulo: Editora UNESP, 2015, pp. 209 – 232.
CAPPARELLI, Sergio. 111 poemas para crianças. Porto Alegre: L&PM, 2003.
CAPPARELLI, Sergio. Um elefante no nariz. Porto Alegre: L&PM, 2011.
CAPPARELLI, Sergio. A jiboia Gabriela. Porto Alegre: L&PM, 2011.
FALEIROS, Álvaro. Tradução & poesia. In: AMORIM, Lauro Maia; RODRIGUES, Cristina Carneiro; STUPIELLO, Érika Nogueira de Andrade (Orgs.). Tradução &: perspectivas teóricas e práticas. São Paulo: Editora UNESP, 2015, pp. 263 – 275.
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