Minha escolha para a tradução foi um poema de uma escritora negra incrível chamada Mari Evans. Ela foi poeta, escritora, dramaturga e musicista afro-americana dos anos 60, nascida em Toledo, Ohio, em 1919. Além de participar de movimentos ativistas, adorava escrever sobre mulheres afro-americanas e envolver questões de identidade e resistência. Uma de suas coleções mais renomadas de poemas é chamada “I Am a Black Woman (1970)”. Ela é pouco conhecida no mundo literário, mas possui uma escrita linda que vale muito a pena conhecer.
Escolhi o poema “When in Rome”, que mostra a relação entre uma patroa branca e sua empregada negra, e o lugar de fala dessas duas mulheres. A mulher negra, no poema, é chamada de Mattie, que pode ser seu nome ou codinome, porém, ao pesquisar sobre isso, achei que Mattie significa “lady” ou “mistress of the house”. Assim, na tradução, decidi fazer uma adaptação com algum nome popular brasileiro que tivesse o mesmo significado. Achei Marta, que significa “senhora” ou “dona de casa”.
Ao longo da tradução do poema, acredito que uma das minhas maiores dificuldades foi construir as rimas e manter a essência do poema original. Fiz as rimas com “comer” e “tê”, “fresquinho” e “fradinho”, “sim” e “mim”, “encher” e “querer”, e, por último, “casinha” e “louquinha”. Acabei adaptando o final da minha tradução com a sugestão da inversão das frases, que me facilitaram a busca pelas rimas.
Na leitura do poema original, na fala da mulher branca, temos uma escrita padrão, enquanto na “fala” da mulher negra, aparecem alguns erros gramaticais que vão marcar seu lugar de fala. Por isso, durante a tradução, eu decidi manter esses erros gramaticais e deixá-los bem marcados na fala da mulher negra. Utilizei “tê, “tivessi”, “poco”, ”anchova” sem o “s” no contexto plural, “qui”, “sô”, “obiviu”, “vê”, “vivê”, “volta”, “casinha”, e “di”.
Em relação às letras maiúsculas e minúsculas, decidi alterar esse padrão. Então, além de manter as palavras “Marta” e “Roma”, mantive as iniciais da palavra “Tem” em maiúsculo para deixar destacado a ideia da mulher branca ter os alimentos em abundância.
When in Rome
Mari Evans
Mattie dear
the box is full . . .
take
whatever you like
to eat . . .
(an egg
or soup
. . . there ain't no meat.)
there's endive there
and
cottage cheese . . .
(whew! if I had some
black-eyed peas. . . )
there's sardines
on the shelves
and such . . .
but
don't
get my anchovies. . .
they cost
too much!
(me get the
anchovies indeed!
what she think, she got --
a bird to feed?)
there's plenty in there
o fill you up . . .
(yes'm. just the
sight's
enough!
Hope I lives till I get
home
I'm tired of eatin'
what they eats in Rome . . .)
Uma vez em Roma
Gabrielli Cristina
querida Marta
a geladeira está cheia . . .
pegue
o que você queira
comer . . .
(um ovo
uma sopa
. . . carne não vai tê.)
Tem endívia ali
e também
queijo fresquinho . . .
(ah puxa! se eu tivessi um poco
de feijão fradinho . . . )
Tem sardinhas
nas prateleiras
sim . . .
mas
não
pegue minhas anchovas . . .
elas custam muito para
mim . . .
(eu pego as
anchova com certeza!
o qui ela pensa, qui sô a
a cara da pobreza?)
Tem bastante ali
para encher . . .
(obiviu! apenas vê o
bastante pra querer!)
espero vivê até voltá
pra minha casinha
da comida di Roma
eu já tô louquinha . . .)