Tradução e Adaptação

Uma vez em Roma

Uma tradução comentada de When in Rome, de Mari Evans

18-05-2021 Por: Gabrielli Cristina Cavalcanti da SilvaAluna de Letras-InglêsOrientadoras: Érica Fernandes Alves e Liliam Cristina Marins

Minha escolha para a tradução foi um poema de uma escritora negra incrível chamada Mari Evans. Ela foi poeta, escritora, dramaturga e musicista afro-americana dos anos 60, nascida em Toledo, Ohio, em 1919. Além de participar de movimentos ativistas, adorava escrever sobre mulheres afro-americanas e envolver questões de identidade e resistência. Uma de suas coleções mais renomadas de poemas é chamada “I Am a Black Woman (1970)”. Ela é pouco conhecida no mundo literário, mas possui uma escrita linda que vale muito a pena conhecer.

Escolhi o poema “When in Rome”, que mostra a relação entre uma patroa branca e sua empregada negra, e o lugar de fala dessas duas mulheres. A mulher negra, no poema, é chamada de Mattie, que pode ser seu nome ou codinome, porém, ao pesquisar sobre isso, achei que Mattie significa “lady” ou “mistress of the house”. Assim, na tradução, decidi fazer uma adaptação com algum nome popular brasileiro que tivesse o mesmo significado. Achei Marta, que significa “senhora” ou “dona de casa”.

Ao longo da tradução do poema, acredito que uma das minhas maiores dificuldades foi construir as rimas e manter a essência do poema original. Fiz as rimas com “comer” e “tê”, “fresquinho” e “fradinho”, “sim” e “mim”, “encher” e “querer”, e, por último, “casinha” e “louquinha”. Acabei adaptando o final da minha tradução com a sugestão da inversão das frases, que me facilitaram a busca pelas rimas.

Na leitura do poema original, na fala da mulher branca, temos uma escrita padrão, enquanto na “fala” da mulher negra, aparecem alguns erros gramaticais que vão marcar seu lugar de fala. Por isso, durante a tradução, eu decidi manter esses erros gramaticais e deixá-los bem marcados na fala da mulher negra. Utilizei “tê, “tivessi”, “poco”, ”anchova” sem o “s” no contexto plural, “qui”, “sô”, “obiviu”, “vê”, “vivê”, “volta”, “casinha”, e “di”.

Em relação às letras maiúsculas e minúsculas, decidi alterar esse padrão. Então, além de manter as palavras “Marta” e “Roma”, mantive as iniciais da palavra “Tem” em maiúsculo para deixar destacado a ideia da mulher branca ter os alimentos em abundância.


When in Rome

Mari Evans


Mattie dear

the box is full . . .

take

whatever you like

to eat . . .

(an egg

or soup

. . . there ain't no meat.)


there's endive there

and

cottage cheese . . .

(whew! if I had some

black-eyed peas. . . )


there's sardines

on the shelves

and such . . .

but

don't

get my anchovies. . .

they cost

too much!

(me get the

anchovies indeed!

what she think, she got --

a bird to feed?)


there's plenty in there

o fill you up . . .

(yes'm. just the

sight's

enough!


Hope I lives till I get

home

I'm tired of eatin'

what they eats in Rome . . .)




Uma vez em Roma

Gabrielli Cristina



querida Marta

a geladeira está cheia . . .

pegue

o que você queira

comer . . .

(um ovo

uma sopa

. . . carne não vai tê.)



Tem endívia ali

e também

queijo fresquinho . . .

(ah puxa! se eu tivessi um poco

de feijão fradinho . . . )


Tem sardinhas

nas prateleiras

sim . . .

mas

não

pegue minhas anchovas . . .

elas custam muito para

mim . . .

(eu pego as

anchova com certeza!

o qui ela pensa, qui sô a

a cara da pobreza?)


Tem bastante ali

para encher . . .

(obiviu! apenas vê o

bastante pra querer!)


espero vivê até voltá

pra minha casinha

da comida di Roma

eu já tô louquinha . . .)