Tradução e Adaptação

Harlem Shadows

Uma tradução comentada de Harlem Shadows, de Claude Mckay

26-09-2022Por: Filipi Marroni YamabeAluna de Letras-Inglês (Bacharelado em Tradução)Professora Orientadora: Érica Fernandes Alves e Liliam Cristina Marins


Harlem Shadows

De CLAUDE MCKAY


I hear the halting footsteps of a lass

In Negro Harlem when the night lets fall

Its veil. I see the shapes of girls who pass

To bend and barter at desire's call.

Ah, little dark girls who in slippered feet

Go prowling through the night from street to street!


Through the long night until the silver break

Of day the little gray feet know no rest;

Through the lone night until the last snow-flake

Has dropped from heaven upon the earth's white breast,

The dusky, half-clad girls of tired feet

Are trudging, thinly shod, from street to street.


Ah, stern harsh world, that in the wretched way

Of poverty, dishonor and disgrace,

Has pushed the timid little feet of clay,

The sacred brown feet of my fallen race!

Ah, heart of me, the weary, weary feet

In Harlem wandering from street to street.



Tradução

Sombras do Harlem


Ouço os passos hesitantes de uma menina

Na Harlem Negra quando a noite cai

É sombrio. Vejo o jeito das garotas naquela rotina

Para se arrumarem e atenderem ao desejo que atrai.

Ah, garotinhas negras com pés ao brilho da lua

Vão caminhando à noite de rua em rua!


Através da longa noite até a luz suave

Do dia, o pezinho esfolado não adormece;

Pela noite solitária até o último floco de neve

Do céu até o peito branco da terra desaparece,

Garota do anoitecer com pé exausto e quase nua

Está se arrastando, com calçados finos, de rua em rua.


Ah, mundo duro e severo, os caminhos são pesados

De pobreza, desonra e desgraça,

Empurrou os tímidos pezinhos calejados,

Os sagrados pés negros caídos da minha raça!

Ah, pés cansados, cansados dessa caminhada árdua

No Harlem estão vagando de rua em rua.



O poema escolhido para a tradução foi Harlem Shadows de Claude Mckay, publicado nos anos 1920. Por meio da descrição de um eu-lírico que observa o Harlem, acompanhamos as jovens negras durante a noite. Devido ao preconceito da época, o que levava à falta de oportunidade no mercado de trabalho, essas mulheres eram obrigadas a vender seus corpos para trazer uma renda mínima para suas casas.

A escolha desse poema foi principalmente pelo fato de não haver outra tradução dele, além de abordar um tema melancólico que é intrigante para mim, devido ao modo como o escritor consegue retratar a realidade fria da época. Sem sombra de dúvida, é uma obra que merece mais visibilidade.

Meu objetivo principal durante a tradução era preservar o máximo da ideia original da obra, apenas fazendo mudanças em alguns aspectos para um melhor entendimento na versão em português. Infelizmente, acabei deixando de lado um pouco a estrutura dos versos, pois não consegui realizar uma tradução satisfatória seguindo o mesmo modelo do poema original. Acredito que seja pela minha dificuldade de identificar a sonoridade e a parte estrutural dos poemas no geral, assim, tentei trabalhar com o sentido do texto de partida.

Para a construção da minha tradução, decidi me basear nas rimas finais de cada verso, desse modo, mantive o ritmo da obra original: ABABCC. Acredito que uma boa forma de começar o relato é explicar as repetições dos versos finais de todos os parágrafos.

O trecho de “from street to street” é a marcação mais forte de todo o poema; não dava para fugir muito de outro sentido que não fosse de “rua em rua”, o problema foi nos versos anteriores a estes. Como o original se referia a chinelos, o primeiro ficou “Ah, garotinhas negras com pés ao brilho da lua”. Acredito que ao mencionar o brilho da lua é possível resgatar o sentido dos pés expostos. O penúltimo verso da segunda estrofe, ficou “Garota do anoitecer com pé exausto e quase nua”. Nesse, a tradução de “dusky” foi, no mínimo, problemática, pois se trata de uma palavra muito poética. Para manter um sentido mais lírico, usei ‘anoitecer’, que também serve como uma referência ao trabalho dessas moças. Na última estrofe há o trecho “Ah, pés cansados, cansados dessa caminhada árdua”, no qual infelizmente não consegui encaixar a citação do eu-lírico sobre a agonia que ele sente ao falar de seu coração; então, para não fugir do resto da temática, utilizei ‘caminhos árduos’ para dar continuidade à ideia da vida difícil que essas mulheres têm.

Quanto a outras dificuldades encontradas durante a tradução, houve certas expressões no texto de partida que eram no plural e que na versão final ficaram no singular. Isso ocorreu devido à adversidade em encaixar rimas no plural na língua portuguesa, todavia, como não há uma especificação de quem são os sujeitos, mesmo no singular, há essa compreensão de que todas aquelas garotas passam pelas mesmas situações. Um trecho complicado foi “little feet of clay”. Em um primeiro momento, acreditei que “pezinhos de barro” seria uma adaptação mais adequada, só que a palavra “calejado” traz um significado mais forte e comum na nossa cultura, além de enfatizar mais a dificuldade dessas pessoas. Também, buscando um sentido familiar, “little gray feet” foi traduzido para “pezinho esfolado”, para manter essa ideia de que os pés estão machucados de tanto andar no solo aquecido pelo sol.

Estes foram os principais pontos a serem destacados da tradução, outros trechos acabaram sendo mais simples de serem adaptados para chegar no mesmo sentido original do poema. Em geral, o vocabulário não foi muito complexo de ser traduzido, apesar de algumas palavras serem mais difíceis de encontrar equivalentes no português, devido ao sentido que eles carregam na língua original. Acredito que minha tradução foi satisfatória de acordo com o meu objetivo de preservar a temática do poema, mesmo que a estrutura não permanecesse igual, ainda sim, foi possível entender a ideia do poema fonte: mostrar a que as garotas negras precisavam se submeter para sobreviver.