Tradução

Tradução do Haikai de Ezra Pound

02-12-2022Por: Mariana de Brito do Nascimento Aluna de Letras Inglês/Bacharelado em TraduçãoOrientadoras: Érica Fernandes Alves e Liliam Cristina Marins

In a Station of the Metro

The apparition of these faces in the crowd:

Petals on a wet, black bough.


(tradução)

Numa Estação de Metrô

A aparição dessas faces por entre o aglomerado:

Pétalas em um úmido, escuro galho.


Comentários sobre a tradução

O poema escolhido para tradução é um haikai de Ezra Pound publicado em 1913. Ezra Pound foi um poeta, músico e crítico estadunidense e desenvolvedor do movimento modernista do Imagismo. Os imagistas escreviam versos sucintos nos quais as imagens visuais seriam os elementos principais em versos livres, ritmos sonoros e utilização de metáforas.

O poema em questão apresenta quatorze palavras, sendo oito no primeiro e seis no segundo verso. A linguagem é direta, concisa e evoca imagens: primeiro por meio do título, que delimita um lugar “a station of the metro”. Em seguida lemos “apparition” que nos faz pensar em algo quase que fantasmagórico, como um vulto que passa apressadamente e mal podemos distinguir sua forma; “faces in the crowd” reitera o sentido de “apparition” já que podemos perceber que são imagens das faces que passam rapidamente em uma multidão. No último verso temos “petals on a wet, black bough”, o qual conclui o poema fazendo um paralelo entre as imagens. É como se fosse um instante de tempo vivenciado pelo eu-lírico e uma associação à outra imagem em pensamento capturados em versos de poucas palavras. Há uma sobreposição das imagens, como se pudéssemos vê-las mentalmente associadas.

Além destes aspectos, o poema não possui verbos e foca principalmente em substantivos e adjetivos. A economia de linguagem auxilia na criação da precisão imagética, que relaciona a vida urbana agitada com o mundo natural; unindo visão e imaginação. As faces de pessoas apressadas pela estação são comparadas às pétalas em um galho escuro e molhado, como se fossem observados após um momento chuvoso.

O autor, na verdade, escreve sobre um momento vivenciado numa estação de metrô em Paris em que ele observa, maravilhado, diversas faces de indivíduos que passam, em uma multidão. Então, a transitoriedade e efemeridade do poema traz um tom melancólico e nos faz pensar na fragilidade da vida.

No processo tradutório uma das maiores dificuldades encontradas foi manter a quantidade de palavras do original, já que o haikai em questão possui também relação com o soneto petrarquiano, pela quantidade de palavras em seus versos (8 no primeiro e 6 no segundo). Foi uma opção, então, adicionar mais palavras entre “faces” e “aglomerado”, tentando, ao mesmo tempo, manter o sentido do texto de partida: de que são várias faces na multidão.

Outro aspecto que desejei manter na tradução foi a rima quase perfeita que Ezra atinge com “crowd/bough”, então optei por não usar a tradução mais óbvia de “crowd” (multidão) e pensei em sinônimos que poderiam ter o mesmo sentido de ‘muitas pessoas em um só lugar’ e que ainda possuísse uma semelhança rimática com “galho”, tradução escolhida para “bough”.

Na primeira versão, quis usar um quase sinônimo para “apparition” = aparência, porém, a tradução para ‘aparição’ parece representar muito mais a evocação de uma imagem que nos surpreende e passa apressadamente.

No último verso, quis me aproximar mais da concisão do poeta, pois é um verso duro e direto que possui uma métrica de três sílabas finais fortes “wet, black bough”. Além disso, há aliteração em “black bough”; então optei por usar de assonância em “um úmido, escuro”, além da aliteração dos sons da consoante “m”.