Tradução

Tradução comentada do poema de Upile Chisala

18-11-2022Por: Melissa Quintela Martinez Aluna de Letras Inglês/Bacharelado em TraduçãoOrientadora: Érica Fernandes Alves

Análise do poema de Upile Chisala publicado no livro ‘Soft Magic’

Escolhi o poema sem título de Upile Chisala publicado no livro ‘Soft Magic’ que tem como tema principal a diáspora e a saudade de uma imigrante por seu país natal. Durante a leitura é possível perceber como o eu lírico retrata a comida como identidade cultural. O poema trata de uma imigrante, não sabemos o gênero dessa pessoa, mas por agora vamos assumir que ela é mulher simplesmente pelo fato de a autora ser também uma mulher.

O eu lírico fala consigo mesmo como se dirigisse a uma outra pessoa que está longe de seu país natal por se sentir solitária. A fim de suprimir a saudade que tem do seu lugar de origem, ela busca por alimentos que fazem parte da sua história, memórias e identidade cultural, porém não é uma tarefa fácil, pois é raro encontrar supermercados que tenham o que ela procura. Novamente, assumo que a lista de alimentos que aparece no poema deve fazer parte da culinária malawiana, pois a poetisa nasceu no Malawi. Ao final do texto, é possível perceber que a tristeza e a saudade fazem o eu lírico se sentir até mesmo revoltado com o oceano e sua situação atual de estar distante de seu lar. Pode-se dizer que ela sente que não pertence ao local onde está atualmente.

Sobre a autora

Upile Chisala é uma socióloga, ativista de direitos humanos, poeta e contadora de histórias. Seus poemas são conhecidos por serem curtos, mas com mensagens poderosas. Ela nasceu e cresceu em Zomba no Malawi e se graduou em Oxford, na Inglaterra. Atualmente vive em Joanesburgo na África do Sul.

Diário do tradutor

Ao traduzir esse texto, considerei focar mais no conteúdo que na forma, já que o texto não possui rimas. O poema tem um ritmo feito por sílabas tônicas e não tônicas, entretanto, em português, não segui a mesma métrica, mas tentei traduzir de uma maneira que houvesse um ritmo na língua alvo, ainda que diferente da língua fonte.

Em relação aos nomes das comidas, eu tinha pensado em escolher comidas brasileiras para os leitores daqui entenderem melhor, mas depois repensei e decidi manter os alimentos do texto original, pois assim eu não apagaria a identidade cultural da pessoa imigrante.

Depois, fiz várias tentativas em traduzir os versos de forma que o conteúdo se mantivesse o mesmo, mas que houvesse um ritmo mais sonoro em português. Os versos com os quais tive mais dificuldade foram ‘when the ocean is your border’, ‘the stubborn ocean won’t disappear’ e ‘might make your bones ache’, pois tentei algumas versões apelando para a emoção mais do que no poema de partida e depois percebi que não precisava fazer isso. Outro motivo é que eu queria encontrar alguma expressão que já é comum em português para dizer o quão sofrido é algo para o verso ‘might make your bones ache’, mas não encontrei nenhuma, então mantive mais perto do sentido literal do texto de partida. Outro verso com o qual tive dificuldade foi ‘you must make do.’, pois se trata de uma expressão própria da língua inglesa, mas depois de considerar algumas alternativas, encontrei uma opção que me agradasse.

[no title] - Upile Chisala

sadly,

when the ocean is your border

you must make do.

home is far

and your hunger for it

might make your bones ache.

so you study supermarkets

till you know where

to can find

goat meat

and

cassava

and

corn meal

and

peanut flour

and

okra

and

dried fish

and

pumpkin leaves,

food that jogs your memory,

after all

you must make do.

I am sorry,

home is far and

you’re hungry for it

and

the stubborn ocean won’t disappear.

Tradução

[sem título] - Upile Chisala

infelizmente,

quando o oceano é sua fronteira

você não tem muita escolha.

seu lar está longe

e você está faminta por ele

é de doer na alma

então você pesquisa por supermercados

até saber onde

pode encontrar

carne de cabra

e

mandioca

e

farinha de milho

e

farinha de amendoim

e

quiabo

e

peixe seco

e

folhas de abóbora,

alimentos que trazem lembranças,

afinal de contas

você não tem outra escolha.

Eu sinto muito,

seu lar está longe

e você está faminta por ele

e

o teimoso oceano não vai desaparecer.