A opção pela tradução do poema “Some Keep the Sabbath Going to Church”, de Emily Dickinson, se deu principalmente pelo tema do texto. Dickinson é uma das figuras femininas mais importantes da literatura americana. Escritora de uma poesia única e não convencional – para seus contemporâneos -, sua literatura foi mais reconhecida após sua morte.
“Some Keep the Sabbath Going to Church” aborda uma espécie de criticismo característico da autora, destinado à igreja ou, como pode ser entendido, à religião organizada como instituição – o que chamou mais minha atenção no texto.
O primeiro questionamento surgiu logo no título, com o vocábulo “Sabbath”, que provém diretamente do hebraico שַׁבָּת (shabát, “Sabbath”). Utilizado no Judaísmo e em algumas vertentes cristãs como a denominação do sábado sagrado, um dia de louvor e descanso, a palavra possui uma carga cultural muito forte. A opção inicial tinha sido por não traduzir “Sabbath”. No entanto, como na maioria das igrejas cristãs brasileiras, essa referência se perdeu ou não é recorrente, posteriormente escolhi traduzir simplesmente para “Sábado”.
Manter as palavras que a autora grafou como maiúsculas também foi de muita importância. “Sabbath”, “Church”, “Home”, “Bobolink”, “Chorister”, “Orchard”, “Dome” e outras fazem parte da simbologia textual em questão – todas as escolhas tradutórias mantiveram os vocábulos em letra maiúscula.
Inicialmente, havia traduzido “Bobolink” como “Triste-pia”, a tradução direta do nome do pássaro. Porém, como essa referência é muito distante para o público brasileiro, com a sugestão da professora Érica, optei por uma ave com um canto mais característico e conhecido pelo público alvo, o “Canarinho”.
Para a construção das rimas, o principal desafio se deu no quarto verso da primeira estrofe. Optei por manter a rima ABCB, fazendo a inversão dos elementos “Orchard” e “Dome” no texto de chegada, respectivamente “Pomar” e “Cúpula”. A inversão se deu pois a rima entre “Lar” (no fim do segundo verso) e “Pomar” (nos meados do quarto verso) possibilitou essa estratégia.
Também adotei a sugestão da professora para a rima da segunda estrofe (que também se configura no esquema ABCB). Inicialmente, havia feito uma mudança um pouco radical, a qual não me agradou. O conselho da professora foi acrescentar “Eu abro minhas Asas em vastidão / [...] Canta – nosso pequeno Sacristão”.
No último momento do poema, combinei os conselhos das professoras Erica e Líliam, tanto para rima quanto para os efeitos de sentido. Como bem apontado, a questão que o eu-lírico levanta ao fim do texto é que seu objetivo não é chegar ao céu, mas simplesmente prolongar o seu tempo. A rima escolhida nos versos dois e quatro da terceira estrofe foi “longo/prolongo”. A opção inicial pelo advérbio “finalmente” tornava o penúltimo verso muito longo – a troca foi efetuada por “por fim”.
Interessa-me muito a temática do texto e a poesia de Dickinson. Apesar de pequeno, “Some Keep the Sabbath Going to Church” trouxe alguns desafios e creio ter alcançado uma tradução satisfatória. As rimas e muito do sentido transpareceu e me parece acessível ao público do texto de chegada.
Poema Original:
Some Keep the Sabbath Going to Church
by Emily Dickinson
Some keep the Sabbath going to Church –
I keep it, staying at Home –
With a Bobolink for a Chorister –
And an Orchard, for a Dome –
Some keep the Sabbath in Surplice –
I, just wear my Wings –
And instead of tolling the Bell, for Church,
Our little Sexton – sings.
God preaches, a noted Clergyman –
And the sermon is never long,
So instead of getting to Heaven, at last –
I’m going, all along.
Tradução:
Alguns Guardam o Sábado Indo à Igreja
Por Emily Dickinson
Alguns guardam o Sábado indo à Igreja –
Eu o guardo, ficando em meu Lar –
Com um Canarinho de Corista –
E de Cúpula, um Pomar –
Alguns guardam o Sábado com Sobrepeliz –
Eu, abro minhas Asas em vastidão –
E ao invés de dobrar o Sino para a Igreja,
Canta - nosso pequeno Sacristão.
Deus prega, um Clérigo reconhecido –
E o sermão nunca é longo,
Então, ao invés de, por fim, chegar ao Céu –
Eu só vou, o tempo prolongo!