Tradução e Adaptação

Congenially meeting Byron

Um prefácio sobre as escolhas tradutórias

10-05-2021 Por: Ana Paula Alsan Aluna de Letras-InglêsOrientador: Érica Fernandes Alves e Liliam Cristina Marins

O poema “To E”, de Lord Byron, foi publicado pela primeira vez na coletânea de seis volumes “The Works of Lord Byron”, por John Murray em 1831. Atualmente, o poema é encontrado em coletâneas de poemas dos primeiros anos da vida do jovem Barão ou em edições que abarcam toda a obra poética do autor, como na antologia Byron's Poetical Works, Vol. 1 - primeira versão organizada em 1898 e a última em 2012.

Os poemas endereçados de Byron (destinados a pessoas específicas, fossem elas explicitamente expostas no título, ou não) são, particularmente, menos conhecidos que os poemas épicos e líricos do autor, o que não significa que sejam menos extraordinários. Como são pouco conhecidos, porém, esses poemas não possuem muitas traduções. Dos noventa e quatro poemas da obra Byron's Poetical Works, Vol. 1, trinta e nove são endereçados a homens e mulheres, nobres e comuns, intelectuais e iletrados. Pouquíssimos deles foram traduzidos para a Língua Portuguesa.

“To E”, segundo Thomas Moore (escritor, compositor, editor literário e amigo de Byron), foi escrito pelo autor em 1802, quando ele estava na faixa etária dos catorze/quinze anos; “E”, ainda de acordo com Moore, era um garoto da idade de Byron, filho de um dos tenentes da Abadia de Newstead (uma das heranças deixadas para o garoto do antigo Barão de Rochdale), fato relevante para esta tradução (BYRON, 1903). O poema de partida, de métrica Pentâmetro iâmbico, apresenta rimas masculinas perfeitas (ABAB), em três quartetos. O eu lírico assume um tom intimista com o leitor (já que é uma poesia endereçada) e as repetições mais marcadas do poema são as palavras que focalizam a relação entre as partes (friendship, twin’d, combin'd, meet, intercourse), além de adjetivos e advérbios que marcam o contraste entre ambos/suas condições (greater, unequal, higher, modest, least, less).

As escolhas tradutórias levaram em consideração, em suma, a rima ABAB de cada estrofe, o sentido mais aprofundado do poema, ou seja, seu endereçamento a outro garoto e, por fim, o tom intimista e aficionado que corrobora com o tema geral. Algumas palavras, por conta de seu sentido mais arcaico, podem causar certa confusão, até na língua inglesa, como rank, gaudy e intercourse. Rank foi mais comumente usada no século XIX, para se referir à condição financeira do indivíduo, ou seja, seu ranking (classe) social; atualmente, principalmente com as contribuições de Karl Marx e sua discussão sobre as classes sociais, rank cedeu seu lugar de regra e se tornou exceção, sendo substituída por class (social class). Rank, na tradução que se segue, foi traduzida como classe.

Gaudy, hoje em dia, sinônimo das palavras overbright, garish e extravagant, tem raiz latina, quer dizer “festa animada” e foi traduzida como “(estado) libertino”. No século XIX, gaudy era usada para além do seu significado mais comum, extravagante, era também o nome para as festas formais entre os nobres ou alunos das Universidades Inglesas (costume que persiste até hoje). A palavra libertino foi escolhida para dar ênfase no contraste entre a moderação e humildade dos menos abastados, como era o caso do garoto para quem a poesia foi escrita, alguém privado do poder da autonomia financeira e afetiva. O poema trafega entre as problemáticas encontradas pelos jovens, ao se envolver, e o clamor do eu-lírico para que elas sejam desconsideradas, já que nada poderia ser mais forte que o amor dos dois, a verdadeira Virtude. Logo, na segunda estrofe, entende-se que o eu lírico tem a compreensão de que é mais abastado e que isso o favorece perante a situação dos dois, já que ele tem mais liberdade para assumir sua relação plena com o garoto; como Barão, já aos catorze anos, para ele havia poucas coisas que fossem difíceis. Libertino, uma palavra que concerne semanticamente muito bem com a poesia Byroniana, no sentido de estado descomedido, sexualmente ou não, está mais atrelada, nesse poema, ao estado negligenciador de deveres e obrigações perante os outros.

Por fim, Intercourse, que no século XIX era usada como uma outra palavra para relations, relationship, connection, intimacy; apesar de haver o sentido sexual atrelado a ela, esse não era o uso mais comum do termo, como é hoje. No presente uso, a palavra é mais coloquial e descreve o ato sexual em si. Intercourse foi traduzida como relação, neste poema, uma palavra que na Língua Portuguesa expressa ambos os significados, como o autor muito provavelmente almejava.

Ademais, uma observação: todas as palavras com letras maiúscula foram mantidas, menos Folly (primeiro verso da primeira estrofe), já que o sentido dúbio da palavra, no inglês, não é respaldada na Língua Portuguesa. Folly, além de ser um substantivo que exprime uma ação tola, insensata, também era o nome dado, no século XVIII e XIX, para construções arquitetadas para fins puramente estéticos, sem uma finalidade prática, como torres, templos ou castelos, que eram edificados em locais longínquos do condado. Em outras palavras, construções inúteis, que serviam apenas para embelezar o local e servir para o bel prazer dos nobres. No poema, Folly significa a maneira tola com a qual todos riem dos dois apaixonados, mas também explicita o caráter supérfluo dessas pessoas, que, para o eu lírico, não passam de um constructo sem finalidade. Como o termo não tem um significado universalizado, a letra maiúscula não foi mantida.


Vamos à tradução:


TO E – LORD BYRON


Let Folly smile, to view the names

Of thee and me, in Friendship twin’d;

Yet Virtue will have greater claims

To love, than rank with vice combin'd.


And though unequal is thy fate,

Since title decked my higher birth;

Yet envy not this gaudy state,

Thine is the pride of modest worth.


Our souls at least congenial meet,

Nor can thy lot my rank disgrace;

Our intercourse is not less sweet,

Since worth of rank supplies the place.


PARA E – LORD BYRON


Deixe os tolos sorrirem ao ver nossos nomes,

O meu e o teu, em Amizade entrelaçados;

Ainda assim, a Virtude exigirá maiores reclames

Ao amor, do que a classe e o vício combinados.


E ainda que desigual seja o teu destino,

Já que o título enfeitou meu nascimento elevado,

Ainda assim, não inveje este estado libertino,

És teu o orgulho do valor humilde e moderado.


Apenas nossas almas encontram-se alegremente,

Assim tua condição não desgraça minha filiação;

Nossa relação, ainda assim, persiste docemente,

Uma vez que o valor da classe substitui a posição.


Referências

BYRON, L. Byron's Poetical Works. (Org). COLERIDGE, E. H. New York: Charles Scribner's Sons. 1903.