Tradução e Adaptação

Alba, de Ezra Pound, uma tradução para o português

21-05-2021Por: Isabelly Franco e Lara BatistaAlunas de Letras – InglêsOrientadoras: Érica Fernandes Alves e Liliam Cristina Marins

● PREFÁCIO

Foi escolhido para tradução, o poema “Alba” escrito por Ezra Pound, autor este, que é considerado uma das maiores figuras do movimento modernista da literatura em língua inglesa, homem que, além de poeta, foi também um importantíssimo crítico literário e editor e que teve grande influência na geração de escritores que o sucederam.

Apesar de “Alba” ser um poema curto, é muito difícil de ser traduzido por carregar grandes significados. O escritor traz para o poema, de forma inovadora, as características formais do gênero Haikai, muito popular na cultura oriental.

Por ser embasado nesse gênero, é possível observar que o poema respeita alguns traços da estrutura de um Haikai: possui três versos e, mesmo que estes não sigam a metrificação tradicional (5 versos no primeiro, 7 no segundo e 5 novamente no terceiro), respeita uma métrica de dois versos com o mesmo número de sílabas e um diferente (7-7-8), por mais que sua métrica fuja do que é esperado para um Haikai, o poema apresenta características clássicas do estilo, ao, por exemplo, tratar de dois temas diferentes justapostos (a flor e a mulher), e possuir um símbolo (kigo) voltado à natureza, que ambienta o poema em um lugar no tempo e no espaço geográfico (verão e regiões montanhosas da Europa e Ásia).

Seguindo as teorias do Imagismo, corrente literária criada pelo poeta americano, o poema ilustra, enquadra, um momento de intimidade entre um casal; ao ler o poema é possivel “ver” a imagem de dois amantes deitados na cama apenas apreciando o momento juntos, muito provavelmente após ter relações sexuais.

A dificuldade de se traduzir um texto tão característico como este encontra-se no fato de que se trata de um poema muito subjetivo e que carrega múltiplos sentidos, como Alba, que possui vários significados válidos, que diz em quatro letras muito mais do que quatro páginas escritas, pode ser o nome da mulher amada que é comparada a flor no poema, pode ser a tradução italiana do momento do dia que o autor tenta ilustrar e pode remeter, ainda, ao Trovadorismo, movimento literário muito tradicional na cultura ocidental. Buscamos manter a estrutura como a proposta por Pound, um Haikai “imperfeito”, no sentido de que mesmo com características tradicionais (uso do kigo e da justaposição), inova (uso de uma métrica diferente da que se espera), que é moderno, que serve de ponte entre as culturas oriental e ocidental ao trabalhar um conteúdo tipicamente europeu (Trovadorismo) dentro de uma forma característica do Japão (Haikai). Por esta razão, mantivemos o título e o mesmo kigo empregados pelo poeta, mas, visto que a língua portuguesa possui como característica palavras maiores do que aquelas em língua inglesa, precisamos adaptar a métrica do poema, e, para não fugir daquilo que propõe o autor, dois versos iguais e um diferentes, a tradução conta com uma métrica de 9-5-9.

● POEMA ORIGINAL

Alba

As cool as the pale wet leaves

of lily-of-the-valley

She lay beside me in the dawn.

● TRADUÇÃO DO POEMA

Alba[1]

Tão fresca quão alvas, úmidas pétalas

de um lírio-do-vale[2]

Ela põe-se ao meu lado na aurora.



[1] O nome Alba foi mantido por possuir inúmeros significados: pode ser o nome da mulher descrita, é a tradução de alvorecer em italiano, além de ser um gênero das cantigas do Trovadorismo.

[2] Kigo