Resenhas

A Inclusão e diversidade em Savage X Fenty Show

“Savage x Fenty Show volume 1” é um documentário sobre o primeiro desfile da linha de lingerie de Rihanna

04-12-2020Por Isabelle Caroline de Queiroz PavaniAluna da UEMProfessora:Aline Scarmen Uchida

RESENHA: A INCLUSÃO E DIVERSIDADE EM SAVAGE X FENTY SHOW

“Savage x Fenty Show volume 1” é um documentário sobre o primeiro desfile da linha de lingerie de Rihanna “Savage x Fenty”, que foi dirigido por Sandrine Orabona, diretora de “Lady Valor: The Kristin Beck Story” e Alex Rudzinski, famoso por “Grease: Live”. Ademais, o show é conhecido por ser de autoria de Rihanna, já que é dona da marca de lingerie e também é cantora, compositora, empresária e atriz. O documentário foi lançado em 2019 na plataforma de streaming “Amazon Prime” e possui 50 minutos de duração. A obra inclui as 10 semanas de preparativos para o desfile, levando aos espectadores os ensaios, às reuniões, ao casting e às provas de roupas da marca. Nele contém também os bastidores da produção e design do espaço do show, que foi muito importante, já que seria um desfile gravado e não apenas fotografado, e lançado posteriormente, diferentemente da maioria dos outros. A parte final do documentário inclui a gravação do próprio desfile, mostrando aos espectadores o resultado final de todo o processo.

A motivação da obra é deixar registrado, principalmente, o desfile e as peças de roupa que serão produzidas para o público. Além do mais, houve o intuito de mostrar os principais propósitos que a criadora da marca, Rihanna, queria que sua coleção encorajasse: a inclusão e a diversidade. Ao longo da produção esses dois pontos são sempre mencionados e colocados como foco, já que a maioria das marcas de roupas, principalmente de lingerie, têm diversidade e inclusão nulas, sendo voltadas para o padrão que é comumente consumido e procurado no mundo da moda.

O documentário começa há dez semanas do desfile, revelando os bastidores e as reuniões. Esse momento inicial foca principalmente em depoimentos da criadora que apresenta os ideais principais que quer que sua marca representa: inclusão e diversidade. Portanto, o foco é realçar as características únicas das mulheres, que normalmente não são mostradas no mundo da moda. Além disso, há a constante afirmação de que todas as mulheres devem se sentir empoderadas, bonitas e serem sua melhor versão, sem deixar que os outros lhe afetem. Ela ainda revela que planeja conquistar isso explorando uma maior variedade de tamanhos, etnias e qualidades pessoais, já que ninguém deve ser excluído.

No primeiro momento é mostrado o depoimento de algumas modelos sobre se sentirem bem consigo mesmas, uma posição que a cantora traz ao público feminino constatando a importância de que todas as mulheres devem valorizar, respeitar e amar seus corpos.

O segundo momento acontece há seis semanas do desfile e mostra os bastidores do design do cenário e os desafios logísticos que eles tiveram que superar, já que o palco deveria ser capaz de representar todos os tipos de artes que estarão no show. Ademais, por ser distribuído em uma plataforma de streaming que possui grande visibilidade, como a Amazon, foi necessário recriar uma forma de exposição para que pessoas do mundo inteiro se sentissem acolhidas dentro desse novo panorama de reinvenção dos desfiles, elevando o conceito a outro nível. Essa parte também mostra um pouco do processo de criação das peças, focando em como literalmente tudo foi pensado, seus propósitos e como suas roupas contam histórias. Ao meu ver, nesse momento, infelizmente, faltou apresentar o processo de solução dos problemas abordados, ao invés de apenas expô-los aos espectadores.

O próximo momento é há dez dias do desfile, um grande salto no tempo desde o último período. Nessa parte, vemos os ensaios das coreografias que estarão presentes e a decisão de Rihanna de subir de volta aos palcos para performar. Além disso, são mostrados mais alguns depoimentos das modelos, sempre enfatizando a importância das mulheres se aceitarem e se sentirem sensuais.

A próxima parte é há 5 dias do desfile e expõe a confirmação das modelos que irão participar, momento importante, porque o casting é uma narrativa dos conceitos que a marca acredita e quer representar. E ainda, são mostradas as provas de roupas juntamente com mais alguns depoimentos das modelos, focando na importância da inclusão. No próximo período, 3 dias antes, é exposta a montagem do cenário e uma breve explicação de como deve ser feito no dia do espetáculo, juntamente com ensaios e ajustes para que tudo fique perfeito. O último momento pré-desfile apresentado no documentário é há 8 horas do show. Nesse momento, podemos ver as últimas preparações e arranjos a serem feitas. Além disso, há depoimentos de modelos que nunca pensaram que seriam convidadas para desfilar e modelar lingerie, por elas acharem que não se enquadram nos padrões impostos pela sociedade. Por último, vemos também um pouco do que aconteceu no backstage do desfile e seu tapete vermelho.

Portanto, o desfile mudou o mundo da moda e fez muitos estilistas e diretores criativos pararem para repensarem seus conceitos;, além de ter o aspecto de mostrar as roupas que serão consumidas pelo público, também teve grande foco na inclusão daqueles que normalmente não são relacionados ao mundo da moda. Dito isto, Rihanna contratou pessoas reais e não somente modelos-padrão para seu show, ou seja, a passarela não continha somente mulheres brancas, altas que seguem o padrão de corpo imposto pela sociedade, isto é, aquele corpo magro, definido, como o corpo das modelos da “Victoria’s Secret”, por exemplo. Tudo isso nos remete ao livro “O Mito da Beleza” de Naomi Wolf, em que a autora menciona como o culto à beleza, à juventude e aos padrões impostos por uma sociedade machista e opressora enxerga a mulher como inferior e como um objeto, afetam a emancipação sexual e intelectual conquistada pelas mesmas. Na contramão ao culto da beleza, a passarela de Rihanna continha indivíduos reais, com os mais variados tipos de corpos e etnias, e até mesmo pessoas com deficiência física. Ou seja: indivíduos de nossa vivência cotidiana, que estão presentes em nossa sociedade. Com isso, Rihanna deixa claro que todos e todas podem usar lingerie e se sentirem bem consigo e com seus corpos.

Assim sendo, o documentário conseguiu capturar a essência dos princípios que a marca acredita, além de mostrar incrivelmente o show em si, como as transições, as apresentações musicais, as danças etc. Porém, apesar de provavelmente não ser o foco, parece-me que faltou mostrar um pouco da realidade dos bastidores, já que o documentário apresenta somente momentos bons, e nós sabemos que não é bem assim. Há muito estresse envolvido, diversos arranjos que têm de ser alterados de última hora, entre outros, uma vez que nem tudo que se espera realmente acontece como planejado. Sendo assim, a única coisa que esse documentário peca é a falta de veracidade ao exibir todos os processos incluídos - tantos os bons quanto os ruins.

Recomendo esse documentário para todos aqueles que se interessam pelo mundo da moda e/ou estão envolvidos em lutas sobre diversidade e inclusão. Também recomendo até mesmo para quem não se interesse pela moda em si, mas que queira aproveitar um evento diferente dos outros existentes, já que esse desfile foi realmente um festival inédito da celebração da diversidade e da inclusão.




Referências bibliográficas

IMDB. Sandrine Orabona. Disponível em: <https://www.imdb.com/name/nm1331050/?ref_=fn_al_nm_1>. Acesso em: 26 out. 2020.

IMDB. Alex Rudzinski. Disponível em: <https://www.imdb.com/name/nm1541136/?ref_=nv_sr_srsg_0>. Acesso em: 26 out. 2020.

SAVAGE x Fenty Show. Direção de Sandrine Orabona e Alex Rudzinski. Nova Iorque: Amazon Prime Video, 2019.

WOLF, Naomi. O mito da beleza: Como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.