Resenhas

A culpa é do John Green

"A dor precisa ser sentida."

24-02-2021Por: Lara Batista Rosa (llarabatista137@gmail.com)Aluna de Letras-InglêsOrientadora: Érica Fernandes Alves

A adolescente de 14 anos que habita em mim saúda a(o) adolescente que habita em você! O tão comentado romance juvenil The Fault in Our Stars (A Culpa é das Estrelas) (2012), do autor estadunidense John Green, conta a história da protagonista Hazel Grace, uma garota com um câncer terminal, que graças a um milagre da medicina tem a oportunidade de viver por mais alguns anos. Hazel conhece Augustus Waters, um garoto bonito de um grupo de apoio para crianças com câncer, e juntos criam um pequeno infinito dentro de seus dias limitados.

John Green consegue abordar um assunto extremamente pesado de forma delicada. Por meio da personagem Hazel, vemos que é impossível escapar da dor de perder um ente querido, não importa o quanto tentemos protegê-los ou nos proteger. Mesmo com a dor, Hazel nunca abriria mão de seu amor por Augustus, do mesmo modo que seus pais não a trocariam por nada. Esse tipo de dor também está ligada à alegria. Sem ela, não reconheceríamos os momentos bons que nos enchem de amor, e é por isso que precisamos ser corajosos e sentir essa dor.

A personagem Augustus, logo no início do romance, deixa claro o seu medo do esquecimento, sua necessidade de ser lembrado depois de morrer e Hazel o rebate dizendo que o esquecimento é inevitável e que se esse fato o incomoda tanto, ele deveria ignorá-lo. Gus aprende, no final das contas, que ele deixou sua marca no mundo, deixou sua “cicatriz” em Hazel, alguém que ele amava e o amava de volta, e isso é o suficiente.

A sociedade costuma olhar para crianças com câncer como se elas fossem guerreiras, heroínas, mas, através de muita ironia e um senso de humor ácido, John Green nos mostra que elas são apenas crianças. Hazel não vê nada de heroico em lutar para respirar, ou Augustus em ter perdido uma perna para o câncer. O que podemos observar é que por terem sua expectativa de vida reduzida, há um senso de urgência em tudo que fazem, uma ansiedade, por isso o livro é cheio de metáforas e reflexões existencialistas e filosóficas.

Algo interessante também é que o medicamento que mantém Hazel viva no romance, não existe na vida real, como o autor comenta em seus agradecimentos ao final do livro: “Essa doença e seu tratamento são comentados ficticiamente neste livro. Por exemplo, o Falanxifor não existe. Eu o inventei, porque gostaria que existisse.” O que nos mostra como John Green gostaria de inspirar esperança para seus leitores.

Durante uma viagem à Holanda, Hazel e Augustus visitam a casa de Anne Frank, uma adolescente alemã de origem judaica, vítima do Holocausto. A protagonista se identifica com Anne, pois ela era tão jovem quanto Hazel quando foi morta e essa é uma realidade que Hazel precisa encarar todos os dias, mais do que outras pessoas. E foi graças a John Green que tive meu primeiro contato com O Diário de Anne Frank, ao qual sou extremamente grata. Assim como Otto Frank diz em uma gravação mencionada no livro, “a maioria dos pais não conhecem os filhos”, pois ele nunca realmente soube sobre os sentimentos da filha até ler seu diário. Hazel também guardava coisas para si, como seu medo de ser uma granada prestes a explodir na vida das pessoas ao seu redor.

Penso que na adolescência os romances juvenis são de extrema importância, pois através deles podemos nos identificar com as personagens jovens, perceber que não estamos sozinhos. Além disso, ao reler A Culpa é das Estrelas com 21 anos percebi o quão grande foi seu impacto em minha vida e o quanto ele tem a nos ensinar, não importa a idade que tenhamos.

Imagem da capa

Freepik. Fotografia por yanalya. Disponível em: https://bit.ly/3pSXfRa.