Muitos alunos tendem a acreditar que léxico é a mesma coisa que palavra, no entanto, definir tal subsistema da língua apenas desta forma pode parecer um tanto quanto simplista e genérico, dando a entender que o léxico diz respeito a todas as palavras que o falante conhece. Mas, não é bem assim que funciona. Na verdade, entende-se por léxico o conhecimento sobre as palavras de uma língua. Isto significa que qualquer palavra faz parte do léxico, o falante conhecendo-a ou não.
Analise o poema “Irmão menor”, do escritor Pedro Bandeira.
Irmão Menor
Irmão menor
é pior
que catapora.
Irmãozinho
é pior do que carniça,
é pior que injeção.
Mexe no que é meu,
rabisca meu caderno,
perde meu carrinho,
e eu fico de castigo
se lhe dou um safanão.
É praga, é prega,
é sarampo, é varicela!
E não venha
achar estranho,
só porque dei uma surra
no danado do moleque
que xingou o meu irmão.
Eu posso xingar.
Os outros não.
Desse texto, destaco a palavra “safanão”, você já ouviu falar nela? Talvez, os mais novos não a conheçam, contudo, saiba que "safanão" já foi uma palavra muito famosa, que todo mundo usava. E é aí que entra a característica mais interessante do léxico, a sua capacidade de se modificar com o passar dos anos, dado que as palavras “nascem”, “morrem” e se diferenciam nos mais variados falares. Mas afinal, o que é “safanão”? “Safanão”, nada mais é, que um empurrão, empuxão, ou seja, o ato de empurrar ou puxar alguém pelo braço, no entanto, assim como tantas outras palavras (sirigaita, ceroula, sacripanta), ela caiu em desuso. Apesar disso, é importante entender que mesmo que tenha desaparecido do linguajar popular, ela não deixou de fazer parte do léxico da língua portuguesa.
Desse modo, pode-se afirmar que o léxico abriga todas as palavras que existem em uma língua, todas mesmo, sendo elas novas ou antigas. Consequentemente, é impossível que um falante tenha conhecimento lexical sobre todas as palavras de uma língua, mesmo que essa seja a sua língua materna.
A todo o momento, criamos e atualizamos palavras, emprestamos outras de diferentes idiomas e até mesmo damos novos sentidos a elas, mas isso já é assunto para um outro subsistema da língua, a semântica.
Referências
BANDEIRA, Pedro. Irmão Menor. Cavalgando o arco-íris. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2002. p. 14.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Míni Aurélio: dicionário da língua portuguesa. 8. ed. Curitiba: Positivo, 2010.