Morfossintaxe

O português brasileiro e as línguas indígenas

A herança na língua dos primeiros habitantes do Brasil

09-08-2021Por: Victória Magnani Coimbra (ra117384@uem.br) Aluna de Letras Português e Literatura Correspondentes Orientador: Hélcius Batista Pereira

Foto: Ricardo Stuckert.

Comumente aprendemos em nossa idade escolar que o Brasil foi “descoberto” pelos colonizadores portugueses, e a partir daí começamos a estudar a “história do Brasil”, contudo, acabamos deixando de lado todos os anos anteriores, quando apenas os povos indígenas habitavam essas terras, e ainda, quando consideramos esse fator, tendemos a generalizar como apenas “índios”, sem levar em consideração a diversidade aqui antes existente de culturas, costumes e de línguas.

Em um mundo ideal, o encontro entre dois povos deveria gerar riqueza, troca e talvez a criação de uma nova cultura. Infelizmente, o que tivemos no Brasil foi um contato violento de desapropriação de tudo aquilo que definia quem eram esses povos em sua individualidade. Além da religião e dos costumes em geral, os portugueses impuseram sobre os indígenas a língua portuguesa, à medida que os catequizavam e “civilizavam”.

Estima-se que, quando os portugueses aportaram no Brasil, existiam aqui de 300 a 350 línguas indígenas faladas ao longo do território, em contraste com os dias atuais, já que existem restantes de 150 a 180 línguas indígenas faladas no Brasil, algumas mantidas apenas para rituais religiosos ou pelos líderes mais velhos em aldeias que ainda preservam costumes originais. O mais interessante de ser aqui observado é o poder que uma língua possui: ela define tanto um povo que, mesmo com tanta opressão, ainda hoje, no que conhecemos como português brasileiro, podemos perceber influências dessas línguas indígenas, principalmente no nível lexical (aquele relacionado à lista de palavras disponíveis aos falantes de uma determinada língua), como por exemplo, palavras relacionadas à alimentação: mandioca, jaca, pipoca; ou ainda aquelas que nomeiam elementos da natureza: jacaré, tatu, graúna, entre outros.

É importante compreender (ou esforçar-nos para fazê-lo) como foi que essas influências permeiam todos esses anos até os dias de hoje. Na época da colonização havia muitas línguas diferentes faladas no Brasil (como ainda há hoje – engana-se quem diz que no Brasil só se fala Português), portanto, para que os jesuítas e colonizadores em geral pudessem se comunicar, criavam-se as chamadas “Línguas gerais”, ou seja, eles escolhiam dentre todas as línguas, uma para ser usada, ou criavam uma língua com base em elementos que conseguiam compreender. Com isso, algum vocabulário usado pelos indígenas foi inserido na fala dos portugueses e nas gerações seguintes, alcançando-nos até os dias atuais. Posso apenas dizer que devemos ser muito gratos a esses povos que mesmo humilhados e oprimidos, ainda enriqueceram nossa língua com um pouco de seu conhecimento e de sua bela maneira de se comunicar.


Imagem da capa

Imagem por Ricardo Stuckert. Disponível em: https://fotospublicas.com/hoje-e-dia-do-indio/.