Contexto de Produção
Esta crônica argumentativa faz parte de um conjunto de obras produzidas por graduandos de Letras - Inglês durante a disciplina de Oficina de Leitura e Produção Textual em Língua Portuguesa, ministrada pela Profa Dra Neiva Maria Jung. A proposta foi formulada segundo a perspectiva dialógica, baseando-se, principalmente, na teoria de Paulo Coimbra Guedes (2004) que formula que um bom texto precisa atender as seguintes qualidades discursivas: unidade temática, objetividade, concretude e questionamento. Ao considerar a importância de se trazer singularidade ou especificidade ao tema abordado, com o intuito de lembrar do “perigo de uma história única” (Chimamanda, 2019), cada autor buscou abordar temas previamente trabalhados em sala de aula, de uma maneira original e individual, inserindo-se, de alguma forma, no texto. Entende-se, portanto, que “A especificidade, por isso mesmo, costuma ser uma pré-condição da originalidade, seja porque uma questão bem claramente determinada tem mais chances de ainda não ter sido tratada, [...]" (Guedes, 2004, p. 273).
Já Te Disse: “Isso aí é Vitimismo”
Me disseram há alguns dias que no Brasil não existe racismo, que todos somos iguais, porque a lei diz assim, e no Brasil sempre se seguem todas as leis. No momento eu fiquei surpreso, eu, um homem pardo, descobriria em tempo real o fim do racismo que assola minha família. Logo perguntei quando esse evento magnífico aconteceu. "Desde 1888, ué", foi a resposta que recebi, e nesse momento tive uma epifania, eu finalmente compreendi a turma do "isso aí é vitimismo".
Se não existe mais a literal escravidão e a tortura por recreação, não é possível que exista racismo, e é assim que essas pessoas percebem a realidade. Um homem negro é seguido em todas as lojas de um shopping? Não é racismo. Uma pessoa com um nome que "parece negro" tem 40% menos chances de ser contratada? Não é racismo. A população de domésticas (que trabalham por migalhas da patroa) é majoritariamente negra? Mas isso não é racismo. Um homem negro é morto simplesmente por "aparentar ser uma ameaça" a um policial? Claramente não é racismo. Aparentemente só é racismo se invadirem meu país, tomarem meus irmãos e irmãs e os arrastarem até um canavial, e, mesmo assim, haverá alguém para dizer: "Eles vieram por vontade própria".
Então podemos (isso inclui você, leitor) chegar à conclusão de que, realmente, não existe mais racismo no Brasil, pronto, era tão simples assim. É simples, é só não olhar para as pessoas que até hoje são escravas, não em alguma fábrica chinesa onde você compra suas roupas, nem em uma mina de cobalto na África onde o processador do seu IPhone é feito, mas aqui no Brasil. Pessoas são levadas até fazendas e trabalham lá até suas mortes, ou eventual fuga. Adivinhe, por favor, meu caro leitor, qual seria a etnia dessas pessoas?
Mas é claro que eu estou apenas me fazendo de vítima, eu deveria agradecer pela bondade do homem branco de tirar meus ancestrais de seus caminhos bárbaros e mostrar a eles as bênçãos da civilização ocidental, como a violência indiscriminada, o ódio ao próximo, a religião que condena e a intolerância, quão triste seria nossa vida sem essas virtudes. Graças a Deus não existe racismo no Brasil.