Morfossintaxe

INTERPRETAÇÃO DA MÚSICA “TEU SEGREDO” DO EXALTASAMBA ATRAVÉS DA ANÁLISE MORFOSSINTÁTICA

03-11-2023Por: Ana Beatriz Borges do Carmo, graduanda de Letras Português/Inglês (UEM)Orientador: Hélcius Batista Pereira (UEM)

TEU SEGREDO

Exaltasamba 


Como eu pude um dia me apaixonar por você?

Como eu pude um dia me envolver com alguém assim?

Tão diferente de mim

Tão nem aí pra sonhar

Por que tem que ser assim?

Bem que eu podia mudar


Se é errando que se aprende, eu aprendi com você

Só se sabe o que é bom quando conhece o ruim

Graças a Deus teve fim

Viver sofrendo não dá

Faça um favor pra mim?

Nem venha me procurar

Não perco mais um dia de sol

Não deixo que tua sombra me assuste

Nem pense que eu fiquei na pior

Não vem me procurar, desilude

Você me entristeceu sem saber

Eu tive que mudar, foi preciso

Teu segredo roubou o meu sorriso.


De acordo com Mário Perini (2006), as orações podem ser classificadas em cinco tipos: imperativas, interrogativas, exclamativas, declarativas e optativas. Sendo assim, cada tipo de oração possui características que as diferenciam das demais. Além disso, de acordo com o autor, a força ilocucionária é outra forma de classificar uma oração, sendo essa classificação dada a partir da interpretação de uma frase de um determinado contexto. Há alguns tipos de força ilocucionária comumente utilizados no cotidiano, como declaração, exclamação, ordem, pergunta, pedido, desejo, entre outros.

Ao analisar a música “Teu Segredo”, do grupo de pagode Exaltasamba, nota-se que as duas primeiras frases da música “Como eu pude um dia me apaixonar por você?/ Como eu pude um dia me envolver com alguém assim?”, são interrogativas abertas, pois há a presença do elemento interrogativo “como”. Apesar de ser uma interrogação, as frases têm força ilocucionária de lamentação, pois neste contexto há uma questão retórica, ou seja, não se espera uma resposta para a interrogação que é feita.

Nos versos seguintes, percebem-se frases declarativas “Tão diferente de mim/ Tão nem aí pra sonhar”, que possuem força ilocucionária de declaração. No próximo verso, “Por que tem que ser assim?” há novamente uma frase interrogativa aberta, com o elemento interrogativo “Por que”, e como é uma pergunta retórica, pode ser considerada a força ilocucionária de lamentação. Após isso, no verso “Bem que eu podia mudar” encontra-se uma oração declarativa, com uma força ilocucionária que pode ser considerada uma sugestão.

Nos versos seguintes “Se é errando que se aprende, eu aprendi com você/ Só se sabe o que é bom quando conhece o ruim”, o compositor apresenta orações declarativas, com força ilocucionária de declaração. Já o próximo verso, “Graças a Deus teve fim”, apesar de ser uma oração declarativa, possui a força ilocucionária de agradecimento. Em seguida, o verso “Viver sofrendo não dá” possui uma oração declarativa, com força ilocucionária de declaração. 

Posteriormente há a frase “Faça um favor pra mim?”, que se trata de uma oração interrogativa fechada, pois é marcada pelo ponto de interrogação. Apesar de ser aparentemente uma pergunta, essa oração tem força ilocucionária de pedido, quando o contexto é analisado. Assim como o próximo verso “Nem venha me procurar”, que também se trata de um pedido, mas nesse caso a oração é declarativa.

Em seguida, há os versos “Não perco mais um dia de sol / Não deixo que tua sombra me assuste”, que são orações declarativas, e possuem força ilocucionária de declaração. Logo depois, encontram-se nos versos “Nem pense que eu fiquei na pior / Não vem me procurar, desilude” orações declarativas, porém essas orações possuem força ilocucionária de pedido. No final da música, nos três últimos versos “Você me entristeceu sem saber/ Eu tive que mudar, foi preciso/ Teu segredo roubou o meu sorriso”, percebem-se orações declarativas com força ilocucionária de declaração, como ocorre tipicamente em orações desse tipo.

Quanto ao papel temático, Perini (2010) afirma que esse se trata da relação semântica existente entre os verbos os sintagmas interligados a ele dentro da oração, sendo importante para demonstrar a relação existente entre a forma e o significado das expressões linguísticas. Ao interpretar algumas orações da música em questão, pensando no papel temático da oração “eu aprendi com você”, “eu” tem o papel temático de agente, assim como na oração “Você me entristeceu sem saber”, “você” também é um agente. Já na oração “Nem pense que eu fiquei na pior”, por exemplo, a palavra “pior” tem o papel temático de lugar. Por fim, no último verso da música “Teu segredo roubou o meu sorriso.”, há um papel temático de agente para “teu segredo”.


REFERÊNCIAS

PERINI, Mário. A Oração Simples. Gramática Descritiva do Português. São Paulo: Ática, 2006. Cap. 3. p. 61 – 67.

PERINI, Mário A. Papéis Temáticos. A Gramática do Português Brasileiro. São Paulo: Parábola, 2010. Cap. 12.