Morfossintaxe

As contribuições das línguas dos imigrantes do século XIX e XX para o Português Brasileiro

Uma só língua instituída pela pluralidade de línguas.

30-08-2021Por: Isabella de Mira Sola (ra118047@uem.br) Aluna de Letras Português e Literatura Correspondentes Orientador: Hélcius Batista Pereira

Foto: Freepik.

Como sabemos, o Brasil é um país que foi constituído por diversos povos, principalmente pela forma que ocorreu sua colonização. Sendo assim, é fato que a língua materna do nosso país também tenha sofrido grandes influências de imigrantes, afinal, nenhuma língua é pura.

A instauração de línguas estrangeiras no Brasil ocorreu durante séculos, substancialmente de 1882 a 1930 devido às crises econômicas, fundiárias e guerras nos países de origem. Desse modo, esses fatos fizeram com que os habitantes de outros países se deslocassem para o Brasil, com o intuito de encontrar uma nova morada.

Todos os imigrantes que se apresentaram nesse período, vieram para o Brasil em momentos distintos, se alojando em várias regiões do país. A variedade de imigrantes era grande, mas descendiam inclusive da Europa e da Ásia, sendo possível citar o alemão, o árabe, o chinês, o coreano, o espanhol, o holandês, o inglês, o italiano, o japonês, o leto e o pomerano. Dentre os citados, o foco de maior influência é dos alemães, japoneses e italianos.

No início das imigrações o Estado permitiu que escolas fossem criadas para atender as especificidades dos novos habitantes, no entanto, algumas proibições foram apresentadas depois desse período. Para tentar conter esses avanços e por medo de perdermos nossa identidade, em 1921 foi criada uma lei que permitia que estrangeiros indesejáveis fossem expulsos do país. Ademais, em 1939, decretaram uma proibição a respeito da alfabetização em língua estrangeira. A mesma deveria ocorrer, então, com o Português Brasileiro, ou seja, a língua materna.

É evidente que quando nos encontramos em um país distinto ao nosso, buscamos nos adequar conforme as pessoas agem naquele local, tanto seus costumes culturais quanto à sua língua. Isto posto, é fato que o mesmo ocorreu com os imigrantes no Brasil. Visando se ajustar para a inserção social e econômica, e pela restrição do ensino de língua estrangeira, os novos habitantes cederam à língua materna e o português se colocou novamente como a língua de poder no Brasil.

Contudo, sabe-se que esse movimento de imigração não tornou nossa língua impune em relação ao ponto de vista lexical. Até os dias atuais, fazemos o uso de vários empréstimos linguísticos de outras línguas, muitas vezes sem nem notar pelo fato de já estarem inseridos em nosso cotidiano. Quando analisamos nossa língua atualmente, podemos notar mais empréstimos vindos do inglês norte-americano, seja de forma adaptada ou original, como: blecaute (black-out), impeachment, personal trainer, trailer, entre outras. No entanto, há diversas palavras advindas de outras línguas, tal como café, chá e tabaco. Assim, nota-se que as línguas dos imigrantes, em sua maior parte silenciadas, têm um papel na memória social brasileira, cuja presença remota pode ser às vezes apenas notada, por exemplo: através do equívoco que acompanha o seu aparecimento; da prática sinestésica do canto da língua silenciada, em antigas canções em dialetos; e na denegação de sua presença ocorrendo na ultracorreção do português.

Em conclusão, fica explícito que as contribuições dos imigrantes possuem, nas representações sociais, lugar para a multiplicidade das línguas e das memórias culturais que formam o povo brasileiro.

REFERÊNCIAS:

Slides da aula sobre o tema.

BOLOGNINI, Carmen Zink; PAYER, Maria Onice. Línguas de imigrantes. Ciência e Cultura, v. 57, n. 2, p. 42-46, 2005.

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