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Ambiguidade: Percepções e interpretações que te levam para um outro mundo!

21-01-2022Por: Isabela Saito Biz (ra118083@uem.br), Rebeca Klepa Rodrigues (ra119529@uem.br)Alunas de Letras-Inglês e Literaturas CorrespondentesOrientadora: Érica Danielle Silva

Quantas vezes você já leu ou ouviu algo e interpretou de outra forma? Pois bem, esse fenômeno, chamado de duplo sentido ou ambiguidade, acontece diariamente em nossas vidas e um exemplo disso é a tirinha feita por Alexandre Beck (Figura 1). Mas antes disso, vamos ver como uma tirinha funciona e do que ela é composta?

Tirinha é um gênero textual derivado dos quadrinhos, fragmentado e curto. Um dos seus objetivos é fazer críticas a valores sociais. Suas características são, no geral, a representação de uma história em três ou mais quadrinhos, podendo ou não conter falas dispostas horizontalmente. A tirinha conta com uma ou duas formas de linguagem, sendo elas: o próprio personagem fazendo uma reflexão consigo mesmo sobre um fato ou uma conversa entre o personagem com um outro personagem.

A arte de Alexandre Beck pode ser encontrada em livros didáticos, jornais, revistas e websites educativos. A tirinha apresenta a linguagem infantil de Armandinho, por meio da qual é possível perceber que ele, sendo uma criança, ainda não faz associações entre o uso e o propósito das palavras, encadeando desse modo, a ambiguidade representada por meio de um humor delicado. Além disso, podemos notar o funcionamento da percepção e do pensamento de uma criança, já que ela não possui “filtros”, ela é pura e segundo o famoso ditado, “crianças não mentem”.



FIGURA 1 - Tirinha de Alexandre Beck


FONTE: Colégio Bandeirantes,

https://colband.net.br/linguagens-e-codigos/nao-ha-ambiguidade.

Segundo Castilho & Elias, autores e linguistas que estudamos no nosso curso, a semântica, ou mais conhecida como “a ciência que estuda o significado”, possui diversas vertentes, sendo elas: lexical, composicional e pragmática. Entre os fenômenos estudados nesse campo do conhecimento, há uma figura de linguagem que se destaca na tirinha: a polissemia, a qual refere-se à ocorrência de palavras com escrita igual, mas com sentidos diferentes. Além disso, o termo de duplo sentido aqui discutido (“vendo”) também é classificado como uma homonímia, que remete à formas distintas de sentido, porém com o mesmo segmento fônico, ou seja, o mesmo som.

Para explicar este fenômeno, podemos também recorrer à Gramática da Língua Portuguesa, por Pasquale & Ulisses, no qual eles explicam sobre a conjugação dos verbos. Nesse contexto, conseguimos entender que o termo “vendo” só possui ambiguidade por conta de sua conjugação verbal. Explicando melhor: quando o verbo de ligação (ser, estar, parecer, tornar…) está presente na frase, a conjugação do verbo é diferente! Mas, quando o verbo de ligação não está presente, o verbo pode sofrer duplo sentido. Então:

● “vendo" (no sentido de ver) = precisa de um complemento, ou seja, um objeto direto. Pode gerar duplo sentido. Exemplo: “Vendo pôr do sol.” - “Assistindo ao pôr do sol.”

● "vendo" (no sentido de vender) = verbo vender conjugado na primeira pessoa do singular. Pode gerar duplo sentido. Exemplo: “Vendo carro usado.”

● "eu estou vendendo / vendo" = se o verbo vender/ver está conjugado, não há ambiguidade.

Além disso, vale destacar também que em uma comunicação oral, a conversação funciona da seguinte forma:

  1. Uma pessoa introduz e escolhe um assunto/tópico e continua a conversa com um ou mais indivíduos.

  2. A predicação entra em ação. Ela é a continuidade da conversa sobre o assunto/tópico escolhido pela outra pessoa e é realizada pelo(s) outro(s) locutor(es) que discorre(m) as características do assunto.

Dito isso, na tirinha podemos constatar que o tópico foi escolhido pelo menino e que está evidenciado em sua plaquinha. Entretanto, quem inicia a conversa com o tema já designado, é o homem. Além do mais, percebemos que Armandinho se justifica acima do questionamento feito pelo homem, em que “aceitando-se o princípio de que estamos todos envolvidos num processo de persuasão, ou de convencimento, deduz-se que todo emissor, para ser aceito, precisa reforçar a verdade daquilo que transmite pela linguagem [...]” (PAULIUKONIS, 2009, p. 91).

Para finalizar, este trabalho que fizemos tem como objetivo mostrar que mesmo nos relacionando com a linguagem de uma criança, o seu campo linguístico é extremamente diverso e interessante, trazendo mais informações do que podemos imaginar! Além de aprendermos sempre com suas curiosidades e peripécias.



REFERÊNCIAS


Colégio Bandeirantes. Linguagens e códigos, não há ambiguidade. colband.net.br, 2013. Disponível em: https://colband.net.br/linguagens-e-codigos/nao-ha-ambiguidade. Acesso em: 15 de outubro de 2021.

CASTILHO, Ataliba T. de; ELIAS, Vanda Maria Pequena Gramática do Português Brasileiro. São Paulo: Contexto, 2012 471 pp. Disponível em: www.editoracontexto.com.br

CIPRO Neto, Pasquale; INFANTE, Ulisses. Gramática da língua portuguesa. 3. ed. São Paulo: Scipione, 2013.

PAULIUKONIS, Maria A. L. Processos de discursivização: da língua ao discurso caracterizações genéricas e específicas do texto argumentativo. Revista Veredas, Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), p. 90-96, 2009. Disponível em: https://www.ufjf.br/revistaveredas/files/2009/12/artigo77.pdf