Literatura

Should classical literature be taught in schools?

A reflection on the discussion about the benefits and harms of the use of classics in literature classes

01-09-2021Por: Ana Paula Alsan (anaalsan12@gmail.com) Aluna de Letras InglêsOrientadora: Aline Uchida

In the past few days, a topic raised on the internet that called my attention – because it was sorely controversial – was the relevance and importance of studying classics in Portuguese language classes, in Brazilian’s public education system. Curiously, students and alumni were the ones who spoke the most about the problem: they all had a formed opinion on the subject (being against the study of classics or in favour). The discussion was fruitful, as it gave space for professors and other professionals of education to explain that the problem of teaching classics, in Brazil, goes beyond choosing which book to work in class.

Many people are opposed to the use of classical literature in Portuguese language classes because they assert that reading centenary works does not encourage students to read, since the themes and language addressed do not match the reality of these students. Most of these people claim, from experience, that reading classics is by no means effective, that Machado de Assis’ and José de Alencar’s works only made them take reading as boring and tedious; they assure that, reading contemporary books, works written directly for children and young-adults would not make students despise reading.

However, there are those who are in favour of using classical literature in public elementary or high school education, and defend at all costs the reading of renowned Brazilian writers in class. In response to those who establish classical literature as a hindrance to the development of reading practice, those inclined to the idea argue that the classics are classics precisely because they present universal themes (themes that are common knowledge) and a historical background about our culture, which is being overlooked by each generation. In addition to claiming that, for them, reading classics in high school and elementary school was a gateway to the reading habit.

What is lost in this discussion of laypeople is that public education is a complex and systematic sphere, and teachers, those who are being judged and questioned during this discussion, are the ones who have the most property to talk about the content that should be applied in each case. In my view, the professor has an infime autonomy and a lot of frustrations: The teaching of classics is foreseen in the basic education guidelines and must be followed, but who can read Machado de Assis at the age of fourteen? Do students have a good reading base or are they close to functional illiteracy? Many are able to follow the class on Moreninha, but what to do with others who do not understand / are not interested? Should teachers just skip the classics and focus on mass literature? If so, would these students have the opportunity to have an in-depth knowledge of this content outside of school? Or is this the only opportunity for them to be aware of something charged in entrance exams and public contests? Is this teacher well paid and has the necessary material to work?

There is no way to discuss the surface and forget the root of the problem: public education is the basis of students who often have nothing. Teaching methods are not ideal, they are what can be done in the current situation. Therefore, it is up to each teacher to know how to work with classics and mass literature, both important for the student's development. A far-fetched classic book becomes a manageable and interesting book if approached in the correct way, but is there economic, mental and social support for the teacher to do so? Maybe, the problem is not the classics intrinsic to the education system, but the classic problem intrinsic to the political system: the devaluation of education by the government and lack of opportunities for young people of different social classes, races, gender etc.

● Tradução:

A Literatura Clássica deveria ser ensinada nas escolas?

Uma reflexão sobre a discussão acerca dos benefícios e malefícios do uso de clássicos nas aulas de literatura

Um tema polêmico levantado nas redes sociais recentemente, e que causou grande alvoroço, foi a relevância e a importância do estudo de clássicos nas aulas de língua portuguesa no sistema público de ensino. Estudantes e ex-estudantes foram, curiosamente, os que mais se pronunciaram sobre o assunto: todos eles tinham uma opinião já formada sobre o assunto (sendo ela contrária ao estudo de clássicos ou a favor). A discussão foi proveitosa, pois deu espaço para profissionais de ensino explicitarem que o problema do ensino de clássicos no Brasil, vai bem além da escolha de qual obra trabalhar na sala de aula.

Muitas pessoas se mostram contrárias ao uso de literatura clássica nas aulas de língua portuguesa, pois alegam que a leitura de obras centenárias não incentiva os alunos a lerem, já que os temas e linguagem abordados não condizem com a realidade desses estudantes. A maioria dessas pessoas afirmam, por experiência própria, que a leitura de clássicos é de modo algum efetivo, e que ler clássicos como Machado de Assis e José de Alencar só os fizeram tomar a leitura como algo chato e entediante, e que a leitura de livros atuais e escritos diretamente para o público infanto-juvenil não faria os alunos desprezarem a leitura.

Entretanto, há aqueles que são a favor do uso de literatura clássica no ensino público, fundamental ou médio, e defendem a todo custo a leitura de escritores brasileiros consagrados. Em resposta aos que estabelecem a literatura clássica como um atrapalho ao desenvolvimento da prática da leitura, os favoráveis argumentam que os clássicos são clássicos justamente pois apresentam temas universais (temas que são do conhecimento comum) e um plano de fundo histórico sobre nossa cultura, que a cada geração vem sendo mais desconsiderada, além de afirmarem que, para eles, a leitura de clássicos no ensino médio e fundamental foi uma porta de entrada para o hábito de leitura.

O que se perde nessa discussão de partes leigas é que o ensino público é uma esfera complexa e sistemática, e o único que tem base e instrução para falar sobre o assunto é o professor. Ao meu ver, ao profissional de educação cabe pouca autonomia e muita frustração: O ensino de clássicos é previsto nas diretrizes base de educação e devem ser seguidas, mas, quem consegue ler Machado de Assis aos catorze anos? Os alunos têm uma boa base de leitura ou estão perto de um analfabetismo funcional? Muitos conseguem acompanhar uma aula sobre AMoreninha, mas o que fazer com os outros que não entendem/não tem interesse? Os professores deveriam somente passar por cima dos clássicos e focar em literatura de massa? Se sim, esses alunos teriam a oportunidade de um conhecimento aprofundado desse conteúdo fora da escola? Ou será que essa será a única oportunidade deles terem conhecimento de um conteúdo cobrado em vestibulares e concursos públicos?

Não há como discutir a superfície e se esquecer da raiz do problema: o ensino público é a base dos alunos, que muitas vezes, não tem nada. Os métodos de ensino não são ideais, são o que pode ser feito na situação atual. Logo, cabe a cada professor escolher como trabalhar com clássicos e com literatura de massa, ambas importantes para o desenvolvimento do aluno. O problema não são os clássicos intrínsecos ao sistema de ensino, mas sim o clássico problema intrínseco ao sistema político: a desvalorização da educação pelos governantes e falta de oportunidades para jovens de diferentes classes sociais, raças, gêneros etc.