Fonética e Fonologia

A onda

A expressividade fônica das vogais em um poema de Manuel Bandeira.

11-12-2020Por: Izabely Lohane Raizer (Aluna de Letras Português/UEM). Orientador: Juliano Desiderato Antonio.

A onda (Manuel Bandeira)


a onda anda

aonde anda

a onda?

a onda ainda

ainda onda

ainda anda

aonde?

aonde?

a onda a onda (BANDEIRA, s/d, p. 267)


Os fonemas vozeados que se produzem a partir da livre passagem do ar pela boca e/ ou fossas nasais são chamados vogais. Segundo Romualdo (2010), os segmentos vocálicos se caracterizam por apresentarem uma abertura maior dos órgãos articulatórios, deixando normalmente a boca aberta ou entreaberta. Além disso, provocam um número maior de vibrações nas pregas vocais. No processo de alfabetização, aprendemos que as vogais são apenas a, e, i, o e u e as respectivas vogais nasais. Quando ensinamos ou somos ensinados dessa maneira, estamos aprendendo apenas as vogais da escrita, pois, na fala, essas cinco letras se transformam em sete sons orais. As vogais são classificadas com base em quatro critérios: zona de articulação, elevação da língua, grau de abertura da boca e papel das cavidades bucal e nasal.

No critério zona de articulação, que determina o movimento da língua e o local onde a vogal será formada, elas são divididas em anteriores, centrais e posteriores. Na elevação da língua, como o nome já diz, avaliamos a altura da língua e sua proximidade ao palato. Nesse critério, temos as vogais altas, as vogais médias e as vogais baixas. No tocante ao grau de abertura, as vogais serão analisadas de acordo com a abertura da boca, sendo classificadas em abertas ou fechadas. Por fim, no papel das cavidades, percebemos se há ou não a ressonância nasal. Nesse quesito, as vogais serão divididas em orais ou nasais.

Um poema é uma obra curta ou longa, formada por estrofes e versos. De acordo com Cortez e Rodrigues (2005), ao analisarmos um verso devemos ter em mente seus artifícios métricos. Após isso, devemos saber que um verso, por ser uma sequência de sílabas átonas e tônicas, é também uma sequência de frações sonoras que oscilam entre altas e baixas. Essa sequência de sílabas e frações sonoras forma o ritmo do poema. Além da métrica e ritmo, a rima é outro recurso usado em um poema. No poema analisado, a aliteração, repetição de fonemas consonantais e a assonância, repetição de fonemas vocálicos, são os artifícios mais usados por Bandeira.

Logo no título do poema temos as vogais “a” e “o”, baixa e médio-alta respectivamente, e terminamos com a vogal “a” novamente, nos dando a impressão de subida e descida. A palavra que serve de base a essas variações no som é “onda”, que dá título ao poema. Por meio do emprego de paronomásias, anáforas e aliteração, o poeta imita o movimento da onda. Bandeira nos leva a sentir a musicalidade do poema com seu paralelismo, como vemos em:

aonde?

aonde?

a onda a onda

O que se pretende obter do poema é uma fluência sonora, na qual as palavras lidas percam a sua individualidade e fiquem cada vez mais parecidas, fazendo que o leitor se “afogue” em meio a tantas vogais.

Referências bibliográficas

BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Record/Altaya, s/d. (Mestres da Literatura Brasileira e Portuguesa, 12).

CALLOU, Dinah; LEITE, Yonne. Iniciação à fonética e à fonologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1990.

CORTEZ, C.Z; RODRIGUES, M. H. Operadores de Leitura da Poesia. In: BONNICI, T, ZOLIN, L. O. (Orgs). Teoria Literária: Abordagens Históricas e Tendências Contemporâneas. 2ed. Maringá: Eduem, 2005, v. 1, p. 57-88.

ROMUALDO, E. C. Elementos de fonologia, fonética e algumas questões relacionadas à alfabetização. In: SANTOS, A. R, RITTER, L. C. B. (Orgs). Alfabetização e linguagem. Maringá: Eduem, 2005. p.29-101.