Entrevista

Normas Linguística e Sociocultural da Elite Brasileira da Primeira Metade do Século XX: as estratégias da polidez e as relações de gênero em cartas da família Mesquita

Foto do acervo pessoal da entrevistada.

Hoje falamos com a pesquisadora Amanda Carvalho Arêas, aluna da graduação do curso de Letras-Português. Ela foi orientada pelo professor Dr. Hélcius Batista Pereira, em sua pesquisa intitulada "Normas Linguística e Sociocultural da Elite Brasileira da Primeira Metade do Século XX: as estratégias da polidez e as relações de gênero em cartas da família Mesquita ".

15-03-2021

Mastigando Letras: Qual o tema da pesquisa de vocês? O que foi pesquisado?

Entrevistado: A pesquisa se voltou sobre as relações existentes entre o uso do futuro do pretérito como expressão de polidez e a questão do gênero. Para isso, usamos como base cartas trocadas entre Júlio Mesquita Filho e Marina Mesquita, que fundamentaram os papéis de gênero que queríamos analisar. Nosso objetivo, então, era entender como o feminino e o masculino afetavam o uso dessa estratégia e quais seriam as razões por trás desse emprego da polidez.

Mastigando Letras: De qual teoria ou de quais autores você se utilizou para realizar sua pesquisa?

Entrevistado: Foram vários, hein? Usamos inicialmente Castilho, Labov, Eckert & McConnell-Ginet, Weinreich e Herzog. Esses autores nos ajudaram a fundamentar conceitos como “comunidade de prática” e entender a questão da variação linguística. Para analisarmos o papel do gênero, que era muito importante para pesquisa, usamos a Hahner e a D ́ Incao, que tinham contribuições muito significativas nessa questão. Além desses, usamos a Araújo e a Freitag para entender a questão da polidez propriamente.

Mastigando Letras: Você poderia falar um pouco dos métodos e procedimentos que se utilizou para realizar a pesquisa?

Entrevistado: Com base nas cartas que foram trocadas entre Júlio Mesquita e Marina Mesquita, fizemos uma análise quantitativa e qualitativa do emprego do futuro do pretérito como estratégia de polidez. Depois, articulamos os dados ao contexto sócio histórico do casal e à própria vivência deles, para entender a relação entre a estratégia e o papel do gênero.

Mastigando Letras: Que dificuldades você encontrou para realizar sua pesquisa?

Entrevistado: Acredito que a maior dificuldade foi a parte inicial mesmo, de realmente levantar dados de forma quantitativa, porque precisávamos entender a força ilocucionária, as relações temporais e como a questão da polidez se encaixava em cada caso, o que tornou o trabalho bem complexo.

Mastigando Letras: Você poderia agora nos contar sobre os resultados encontrados por sua pesquisa?

Entrevistado: O resultado da pesquisa foi bem surpreendente, acreditávamos que a Marina, por causa do papel feminino articulado à época, seria a que mais usaria a estratégia do uso do futuro do pretérito para expressar a polidez, mas, na realidade, o Júlio foi quem se destacou. Pudemos entender esse resultado a partir da relação que o casal estabeleceu, o Júlio estava exilado, dependendo financeira e socialmente da Marina, que era o contato dele com o que estava acontecendo aqui no Brasil. Então, tudo isso o colocou em uma posição de dependência, o que explica a sobressaliência dele.

Mastigando Letras: Em que sua pesquisa colaborou ou contribuiu?

Entrevistado: A pesquisa colaborou para a compreensão da questão do gênero e sua relação com a linguagem, além de contribuir para o entendimento do contexto sócio histórico dessa primeira metade do século XX e como o habitus social afetava os usos linguísticos.

Mastigando Letras: Dá muito trabalho realizar pesquisa?

Entrevistado: Com certeza, mas é um trabalho muito gostoso. Ter essa oportunidade de colocar em prática, sob um olhar de pesquisador, aquilo que a gente vê na teoria é incrível e faz todo esse trabalho valer muito a pena.

Mastigando Letras: Sua pesquisa foi feita de modo voluntário ou com bolsa?

Entrevistado: Foi de modo voluntário mesmo.

Mastigando Letras: Valeu a pena ter vivenciado esta experiência na realização de uma pesquisa?

Entrevistado: Demais! É uma experiência maravilhosa, eu acho que todos deveriam ter essa oportunidade de se colocar no lugar de pesquisador e fazer esse trabalho científico mesmo, com certeza é uma experiência que muda nossa postura como estudantes e nos faz querer cada vez mais colocar o conhecimento em prática.

Mastigando Letras: Que conselhos você daria para alguém que deseja algum dia experimentar fazer uma pesquisa?

Entrevistado: Só vai! Apesar de ser verdadeiramente um desafio, é um trabalho extremamente recompensador. Entregar o relatório final e ver tudo que a gente conseguiu desenvolver é uma experiência que transforma muito nossa visão em relação à ciência e ao fazer científico.

Mastigando Letras: Já apresentou sua pesquisa em eventos científicos? Se sim, como foi esta experiência? Se não, quando será sua apresentação?

Entrevistado: Eu apresentei duas vezes essa pesquisa. Na primeira, estava bem no início, então foi uma apresentação mais relacionada à fundamentação e aos objetivos que eu buscava concluir. Já na segunda, a gente já tinha os resultados, então foi bem diferente e foi possível aprofundar mais e apontar os resultados nos quais a gente chegou. Ambas foram muito gratificantes e me fizeram querer seguir nesse caminho do fazer ciência.

Muito obrigado pela entrevista! E parabéns pelo trabalho!!!