Entrevista

O cordel entre tradição e inovação tecnológica: produção de subjetividades, de memórias e de relações de poder

Foto do acervo pessoal do entrevistado

Hoje falamos com o pesquisador Victor Hugo dos Santos Gabriel, aluno da graduação do curso de Letras / Inglês. Ele foi orientado pelo professor Pedro Navarro e, como coorientador, o professor Hélcius Batista Pereira, em sua pesquisa intitulada "O cordel entre tradição e inovação tecnológica: produção de subjetividades, de memórias e de relações de poder".

09/02/2021

Mastigando Letras: Qual o tema de sua pesquisa? O que foi pesquisado?


Entrevistado: Bem, o meu tema foi a análise do discurso foucaultiana da prática cordelista, mais especificamente as pelejas, que são uma espécie de subgênero dentro da Literatura de Cordel. Pesquisamos as diferenças entre as pelejas tradicionais, que eram produzidas e publicadas durante o século XX e as pelejas virtuais, em que os cordelistas publicam e produzem por meio da internet. Procuramos marcas distintivas como a prática desses sujeitos, a subjetivação, as memórias discursivas, o discurso etc.


Mastigando Letras: De qual teoria ou de quais autores você se utilizou para realizar sua pesquisa?


Entrevistado: A teoria principal foi fundamentada em Foucault e demais pesquisadores foucaultianos, em especial meu grande mestre e amigo orientador, professor Pedro Navarro, que é um grande pesquisador e exemplo da análise do discurso foucaultiana hoje e sempre. Em nossa pesquisa, desenvolvemos e abordamos tópicos que dialogam com os conceitos estudados por todo o nosso grupo de estudos foucaultiano (GEF) ao longo do ano pandêmico de 2020. Autores como Grós, em sua linda publicação “Desobedecer”, são ponte de conhecimento para que nossa pesquisa pudesse, de fato, traçar caminhos concretos.


Mastigando Letras: Você poderia falar um pouco dos métodos e procedimentos que você se utilizou para realizar a sua pesquisa?


Entrevistado: Durante a realização de nossa pesquisa, obtive muita ajuda dos meus professores orientadores e até mesmo da professora Margarida da Silveira Corsi, que foi uma grande apoiadora desde sempre. Integramos juntos essa caminhada no nosso projeto de extensão “Cordel em Exposição”, fizemos um belo trabalho durante o ano de 2020, em que obtive muito contato com os grandes poetas cordelistas. A partir disso, as leituras e as discussões do meu grande grupo de estudo, que tenho a honra de participar, também foram essenciais para que os caminhos fossem traçados. Por fim, unimos, de fato, as ideias de todo esse amplo grupo de pessoas ao qual sou muito grato e pudemos finalizar com uma pesquisa que busca a valorização e análise de nossa cultura brasileira.


Mastigando Letras: Que dificuldades você encontrou para realizar sua pesquisa?


Entrevistado: Creio que como todo pesquisador, unir teoria, prática e o objeto de estudo é sempre um desafio. Minha maior dificuldade e, por isso, falo até em primeira pessoa, foi a de conciliar tempo entre tantas coisas e me dedicar de maneira integral a pesquisa. Apesar disso, com muita gratidão, todo o suporte e apoio que encontrei/encontro durante a minha caminhada como pesquisador é essencial para que eu continue.


Mastigando Letras: Você poderia agora nos contar sobre os resultados encontrados por sua pesquisa?


Entrevistado: Encontramos diversas particularidades entre a produção das pelejas tradicionais e virtuais, em especial em relação aos sujeitos e a subjetivação que ali estão presentes. As próprias temáticas e a estrutura composicional se modificam entre os contextos e os momentos de recepções, o que ressalta as teorias foucaultianas sobre a estrutura do poder, o contexto, o discurso, resistência, conceitos muito importantes para compreendermos uma prática tão grandiosa como é o Cordel. Acredito que ter percebido que há regularidades nas mudanças no que diz respeito à valorização de uma terra natal, de um tempo antigo, bem como do próprio propósito em se produzir pelejas, foram os aspectos mais marcantes e que nos permitiram valiosas reflexões e contribuições para essa belíssima prática literária/discursiva.


Mastigando Letras: Em que sua pesquisa colaborou ou contribuiu?


Entrevistado: Bem, como um indivíduo que desconhecia profundamente a prática cordelista, ao me deparar com a pesquisa e a própria oportunidade oferecida pelo professor Hélcius, fui me apaixonando por essa cultura e essa prática tão popular presente em nosso país. Por isso, creio que a nossa pesquisa contribui não só para uma rede de pesquisadores das pelejas, ou até mesmo para a própria concepção do subgênero peleja, mas também para uma valorização concreta do que é o Cordel e o que ele representa a todos os sujeitos integrados, uma belíssima prática de resistência e, em alguns casos, desobediência, tão necessária nos dias atuais.


Mastigando Letras: Dá muito trabalho realizar pesquisa?


Entrevistado: Quando temos gosto pelas leituras e a temática proposta, acaba se tornando mais uma daquelas práticas maravilhosas de melhoria de nós mesmos. Faço uma comparação com ir a academia ou praticar exercícios, estamos em constante aprendizado e isso requer esforço, trabalho e dedicação. No fim, isso é tudo recompensado.


Mastigando Letras: Sua pesquisa foi feita de modo voluntário ou com bolsa?


Entrevistado: Nossa pesquisa abarca apenas o modo de pesquisa científica sem bolsa, devido ao momento em que integramos não condizer com o contexto de abertura de bolsas e também pela certa desvalorização de nosso governo em relação às pesquisas científicas.


Mastigando Letras: Valeu a pena ter vivenciado esta experiência na realização de uma pesquisa?


Entrevistado: Com certeza, é sempre um momento muito rico de ensinamentos e conexões. Gratidão no peito a todos os envolvidos, pois sei que não estou sozinho nessa caminhada.


Mastigando Letras: Que conselhos você daria para alguém que deseja algum dia experimentar fazer uma pesquisa?


Entrevistado: Bem, isso é complicado (risos), é mais fácil do que parece e mais difícil do que pensado. Acredito que como tudo na vida, basta começar. É importante fazer algo que goste, ou que, pelo menos, você tome gosto por aquilo, a partir daí tudo é consequência. É o momento mais rico e valioso em nossa caminhada na universidade. Aprendi mais com as conexões que fiz em eventos e em pesquisas do que propriamente nas aulas regulares, o espaço é maior e toda a vivência que temos ali são demasiadamente importantes para uma real aprendizagem. O maior conselho é começar e não desistir.


Mastigando Letras: Já apresentou sua pesquisa em eventos científicos? Se sim, como foi esta experiência? Se não, quando será sua apresentação?


Entrevistado: Ainda não apresentamos essa pesquisa particularmente, mas já temos essa experiência nessa caminhada e é uma sensação de dever cumprido. Assim que possível, em um evento sobre a análise do discurso, certamente publicaremos e concretizaremos esse belíssimo trabalho, em que, com muita felicidade, divido com meu professor orientador Pedro Navarro e o meu professor coorientador Hélcius Pereira.


Muito obrigado pela entrevista! E parabéns pelo trabalho!!!