Entrevista

Uma discussão lacaniana sobre a escrita feminina durante o Romantismo e o período Vitoriano

Mastigando Letras: Qual o tema de sua pesquisa? O que foi pesquisado?

Ana Paula: O tema da pesquisa é a escrita de mulheres oitocentistas e a sua persistência no ato revolucionário de escrever como mulheres, apesar da violência objetiva na qual estavam submetidas. A pesquisa percorreu a jornada de escritoras como Jane Austen e Emily Brontë: o contexto de produção em que viviam (social, político, familiar) e como isso se refletia em suas obras (através de lentes lacanianas e ginocríticas).

Mastigando Letras: De qual teoria ou de quais autores você se utilizou para realizar sua pesquisa?

Ana Paula: O embasamento teórico foi guiado principalmente pelos conceitos de Violência Objetiva e Subjetiva estabelecidos por Slavoj Žižek em sua obra "Violência" (2014) e o conceito de ginocrítica de Elaine Showalter em sua obra "A crítica feminista no território selvagem" (1994).

Mastigando Letras: Você poderia falar um pouco dos métodos e procedimentos que você se utilizou para realizar a sua pesquisa?

Ana Paula: A discussão seguiu a abordagem qualitativa de pesquisa e em uma metodologia historiográfica, além de se basear na crítica feminista, – afinando o leque dentro desse nicho para a ginocrítica, o estudo da mulher como escritora – e no materialismo lacaniano, uma corrente filosófica representada em grande parte pelos postulados de Slavoj Žižek.

Mastigando Letras: Que dificuldades você encontrou para realizar sua pesquisa?

Ana Paula: Não houve dificuldades.

Mastigando Letras: Você poderia agora nos contar sobre os resultados encontrados por sua pesquisa?

Ana Paula: Pela observação dos aspectos analisados, concluiu-se que a tradição masculina desde sempre estereotipou (quando não excluiu) as mulheres e suas personalidades, portanto, ao dar voz e autonomia a suas heroínas, Jane Austen e Emily Brontë (e suas irmãs) quebraram a tradição e iniciaram uma nova perspectiva literária. Essas mulheres, privilegiadas a seu modo – já que tinham instrução informal e formal – não deixaram de descrever sua realidade, numa sociedade patriarcal e opressora, para dar vida a suas personagens. Esse ato de rebeldia que era continuarem a escrever, mesmo sem nenhum incentivo ou perspectiva, foi tomado na análise como um ato de resistência à violência objetiva em que estavam inseridas, logo, escrever era um ato de violência simbólica. Não há como negligenciar o papel do sistema econômico (capitalista) na sociedade patriarcal em que viviam, que era (e continua sendo) a raiz da desigualdade social, representada, muitíssimo bem nesse caso, pelo sexismo.

Mastigando Letras: Em que sua pesquisa colaborou ou contribuiu?

Ana Paula: A pesquisa expandiu os estudos nas áreas da ginocrítica e materialismo lacaniano, além de estabelecer uma relação direta entre o sistema econômico vigente e as problemáticas enfrentadas pelos oprimidos na sociedade (principalmente quando esses oprimidos são artistas e mulheres).

Mastigando Letras: Dá muito trabalho realizar pesquisa?

Ana Paula: Sim... mas com a prática o processo se torna mais orgânico e a escrita mais fluida.

Mastigando Letras: Sua pesquisa foi feita de modo voluntário ou com bolsa?

Ana Paula: Com bolsa.

Mastigando Letras: Valeu a pena ter vivenciado esta experiência na realização de uma pesquisa?

Ana Paula: Com certeza. Pesquisar faz com que o estudante aprenda não só sobre o assunto abordado, mas também sobre a comunidade acadêmica e mundo a sua volta.

Mastigando Letras: Que conselhos você daria para alguém que deseja algum dia experimentar

fazer uma pesquisa?

Ana Paula: Fichamento é essencial, nunca abra mão dele. Converse com seu orientador sobre como funciona em sua totalidade um projeto: às vezes suas etapas de realização podem ser confusas. E o mais importante: pesquise algo sobre o que você goste, ou que pelo menos, ache que possa vir a gostar.

Mastigando Letras: Já apresentou sua pesquisa em eventos científicos? Se sim, como foi esta experiência? Se não, quando será sua apresentação?

Ana Paula: Sim, já apresentei no EAIC* 2020 (online). A experiência foi nova para todos, inclusive para os organizadores e coordenadores, mas todos ficaram satisfeitos no fim das contas. Foi ótimo poder mostrar o projeto para todos e conhecer outros vários.

* EAIC: Encontro Anual de Iniciação Científica

Muito obrigado pela entrevista! E parabéns pelo trabalho!!!