Entrevista

Ética da Diferença em Relações Pluriculturais: Uma Análise Crítica da Tradução do Card Game “Yu-Gi-Oh!”

Hoje falamos com o pesquisador Gustavo Tudisco Favaretto, aluno da graduação do curso de Letras-Inglês (Licenciatura e Bacharelado em Tradução). Ele foi orientado pela professora Liliam Cristina Marins, em sua pesquisa intitulada A Ética da Diferença em Relações Pluriculturais: Uma Análise Crítica da Tradução do Card Game 'Yu-Gi-Oh!'.

23-09-2021

Mastigando Letras: Qual o tema de sua pesquisa? O que foi pesquisado?

Entrevistado: Trata-se de uma análise crítica da tradução do jogo de cartas japonês “Yu-Gi-Oh!”, lançado no fim da década de 90. A pesquisa aborda como tal processo tradutório se deu – ou se dá - nessa relação pluricultural, entre Japão e Estados Unidos, e como este se constitui dentro das concepções de ética(s) nos Estudo da Tradução. Foram contempladas especificidades desse translado: como determinados aspectos implícitos influenciam intensamente a leitura e percepção do jogador-leitor ocidental. Há também um recorte temático: a análise se debruçou sobre cards que contemplam elementos religiosos e/ou mitológicos ou que apresentam fortes inclinações para o gênero do horror.


Mastigando Letras: De qual teoria ou de quais autores você se utilizou para realizar sua pesquisa?

Entrevistado: Foram de suma importância os conceitos de voz e o papel do tradutor desenvolvidos por Venuti (1995) e Hermans (1996) e, principalmente, nas reflexões acerca das diferentes éticas na tradução, abordadas por Esteves (2009, 2014) e Oliveira (2015), para compreender como essas concepções de ética(s) se dão nas relações pluriculturais.


Mastigando Letras: Você poderia falar um pouco dos métodos e procedimentos que você se utilizou para realizar a sua pesquisa?

Entrevistado: Naturalmente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica das obras teóricas, uma subsequente leitura de tais textos, além de uma análise extensa e cautelosa do card game em questão – acerca de como se deu a sua criação e posterior tradução. Estabeleceu-se um diálogo entre as leituras e fichamentos dos textos e a tradução de “Yu-Gi-Oh!”, através do qual foram levantadas discussões sobre esse processo tradutório. Finalmente, a análise da discussão e dos resultados levou à escrita do relatório final.


Mastigando Letras: Que dificuldades você encontrou para realizar sua pesquisa?

Entrevistado: Uma das maiores dificuldades foi encontrar textos que tratassem da tradução de card games, em especial sobre “Yu-Gi-Oh!”. A maioria das obras trata do anime homônimo (no qual o jogo de cartas é baseado), mas quase nenhuma sobre os cards em si. Tive um sentimento inicial de desencontro, como se não fosse encontrar a forma ideal de desenvolver a análise, devido à ausência de material. No entanto, com o embasamento teórico e as sugestões de leitura das minhas orientadoras, professoras Liliam e Aline, acredito que obtive um resultado satisfatório. Da mesma forma, a redação não foi uma tarefa fácil para mim, visto que é minha primeira pesquisa e não estava tão familiarizado com a estrutura. Porém, contando novamente com as minhas orientadoras, essa dificuldade logo foi superada.


Mastigando Letras: Você poderia agora nos contar sobre os resultados encontrados por sua pesquisa?

Entrevistado: Após a análise crítica da tradução do jogo, constatei que a motivação das empresas estadunidenses envolvidas na importação de “Yu-Gi-Oh!” influenciou diretamente na leitura dos jogadores ocidentais, e, consequentemente, na percepção geral de aspectos seminais dessa obra como um todo. Apesar de isso envolver “Yu-Gi-Oh!” como uma franquia (mangá, animações, jogo de carta, video games), a versão em LI do card game passou (e passa) por um processo de amortecimento ou suavização antes que atingisse o solo ocidental. Muito disso seu deu pelo fato das norte-americanas Upper Deck e 4Kids Entertainment visarem padrões temáticos apreciados pelo público alvo infanto-juvenil daquele contexto sociocultural. No contexto de partida, no entanto, “Yu-Gi-Oh!” surgiu de um mangá de terror, bastante voltado para o público de jovens adultos. Essa prática de amortecimento se deu e se dá nesse translado e na tentativa de atingir um público-alvo diferente, em um contexto sociocultural completamente diferente.


Mastigando Letras: Em que sua pesquisa colaborou ou contribuiu?

Entrevistado: Creio que pela ausência de trabalhos acerca de traduções dessa sorte (card games orientais), a pesquisa se faz bastante relevante. Entender como processos tradutórios se dão – sobretudo quando tratamos de jogos, vídeos, filmes e produções do mundo da cultura popular – é muito importante, não só a título de compreensão desses elementos, mas como um meio de demonstrar como traduzir é marcar-se como sujeito sócio-histórico, sempre, e como se constituem as concepções de ética(s) nessas relações pluriculturais (Japão e Estados Unidos da América, no caso desse trabalho). É de extrema importância dissecar os textos de chegada, sejam eles quais forem - e entender como essas nuances se apresentam, nas entrelinhas ou explicitamente, em todo e qualquer material que encontramos e que passou pelas mãos de um tradutor. Há sempre uma voz, um sujeito, um texto e, consequentemente, ética(s).


Mastigando Letras: Dá muito trabalho realizar pesquisa?

Entrevistado: Eu acredito que sim, embora isso dependa muito do que você considera como “dar trabalho”. Há quem diga que ler e escrever sobre as coisas pelas quais você se interessa bastante não seja necessariamente um grande trabalho. Pra mim, é sim! No entanto, é um trabalho que proporciona um retorno magnífico. Não trocaria a experiência de realizar uma pesquisa autêntica e necessária durante a graduação por qualquer outra.

Mastigando Letras: Sua pesquisa foi feita de modo voluntário ou com bolsa?

Entrevistado: Fui voluntário.


Mastigando Letras: Valeu a pena ter vivenciado esta experiência na realização de uma pesquisa?

Entrevistado: Muito! Em todos os aspectos possíveis. Além de toda a relevância para a minha jornada como pesquisador, aluno e até mesmo redator, havia uma motivação pessoal bem forte para essa pesquisa – eu jogo este card game desde os 5 anos de idade. Sempre interessado em tradução, esses aspectos que estudei sempre foram do meu interesse. Portanto, foi uma experiência única e incomparável.

Mastigando Letras: Que conselhos você daria para alguém que deseja algum dia experimentar fazer uma pesquisa?

Entrevistado: Escolha um tema, área, objeto de estudo pelos quais você tem um interesse intenso, algo que realmente te deixa inquieto. Há coisas que te deixam curioso por um dia, por uma semana ou até um mês. Mas lembre-se que você vai pesquisar, ler, fichar e escrever sobre isso por pelo menos um ano. Tem que ser de fato algo que te coloca em movimento como sujeito.


Mastigando Letras: Já apresentou sua pesquisa em eventos científicos? Se sim, como foi esta experiência? Se não, quando será sua apresentação?

Entrevistado: Ainda não. Iniciei a pesquisa no início de 2021 e finalizei ela quase seis meses antes da data preestabelecida. Portanto, pretendo e estou bastante ansioso para apresentá-la ainda no primeiro semestre de 2022.


Muito obrigado pela entrevista! E parabéns pelo trabalho!!!