Entrevista

Uma investigação funcionalista dos pronomes pessoais: da norma ao uso

Hoje falamos com as pesquisadoras Dayane Endo Lopes e Maria Rita da Costa Francisco, alunas da graduação do curso de: Letras - Português/Inglês. Elas foram orientadas pelo professor Juliano Desiderato Antonio, em sua pesquisa intitulada Uma investigação funcionalista dos pronomes pessoais: da norma ao uso”.

13-09-2021

Mastigando Letras: Qual o tema da pesquisa de vocês? O que foi pesquisado?

Entrevistado: Nós realizamos um estudo contrastivo entre a norma e o uso dos pronomes pessoais que exercem a função de objeto. Para isso, utilizamos a definição trazida em diversas gramáticas para comparar com o seu uso em um córpus de língua falada do Grupo de Pesquisas Funcionalistas do Norte/Noroeste do Paraná.


Mastigando Letras: De qual teoria ou de quais autores vocês utilizaram para realizar sua pesquisa?

Entrevistado: Lançamos mão das definições expostas em gramáticas escolares, em gramáticas tradicionais clássicas e em gramáticas de linguistas para observarmos o funcionamento do pronome pessoal exercendo a função de objeto. Os materiais utilizados na pesquisa foram a Gramática Houaiss da Língua Portuguesa, de Azeredo; a Moderna Gramática Portuguesa, de Bechara; a Nova Gramática do Português Brasileiro, de Castilho; a Novíssima Gramática de Língua Portuguesa, de Cegalla; a Gramática da Língua Portuguesa, de Cipro Neto e Infante; O português da gente: a língua que estudamos, a língua que falamos, de Ilari e Basso; e a Gramática de Usos do Português, de Neves.


Mastigando Letras: Vocês poderiam falar um pouco dos métodos e procedimentos que utilizaram para realizar a pesquisa?

Entrevistado: Após definirmos as leituras a serem realizadas, iniciamos o processo de fichamento das definições trazidas em cada gramática. Utilizamos as definições de Cegalla (2008), Cipro Neto e Infante (2008), Azeredo (2008), Bechara (2002), Neves (2000) e Castilho (2010). A partir disso, analisamos as diversas falas do córpus para destacarmos todas as ocorrências do pronome pessoal como objeto e quantificarmos seus usos.


Mastigando Letras: Que dificuldades você encontrou para realizar sua pesquisa?

Entrevistado: O nosso orientador nos auxiliou muito em todas as etapas de nossa pesquisa, o que tornou todo o processo mais simples. Porém, a parte que exigiu mais empenho e tempo foi a classificação sintática e semântica de cada pronome, cuja função era a de complemento verbal, encontrado no corpus de análise. Houve a necessidade de muito estudo gramatical para a classificação sintática e de uma análise profunda de cada caso para compreendermos a situação em que o pronome estava sendo utilizado e classificarmos no papel semântico mais adequado.


Mastigando Letras: Você poderia agora nos contar sobre os resultados encontrados na pesquisa?

Entrevistado: A partir da análise e da comparação das gramáticas e do córpus falado composto por aulas e por entrevistas, foram encontradas algumas divergências entre a norma e o uso. Apesar de algumas gramáticas citarem as variações linguísticas, o espaço destinado a essa mudança constante da língua ainda é reduzido.

Um exemplo dessas divergências é o uso dos pronomes do chamado “caso reto” exercendo função sintática de complemento direto. Encontramos, no córpus, ocorrências como “eu vou concluir ele" e “eu levei ele para o laboratório". As gramáticas escolares destacam que essas frases são comuns na língua oral cotidiana, mas não são aceitas no padrão formal da língua. Nas gramáticas tradicionais clássicas, Bechara (2002) apresenta casos em que a norma pode ser contrariada, e a forma reta pode ocorrer no lugar da oblíqua, mas tais ocorrências são tratadas como exceções admitidas pelos gramáticos e não se aproximam das ocorrências encontradas no córpus deste trabalho. Diversas gramáticas não mencionam as ocorrências como as encontradas no córpus.

Ao contrastar as gramáticas entre si, é nítido que os trabalhos dos linguistas estão mais preocupados em demonstrar o funcionamento da língua nos dias atuais, evidenciando que a língua não está estagnada (engessada). Pelo contrário, ela muda ao longo do tempo.


Mastigando Letras: Em que a pesquisa colaborou ou contribuiu?

Entrevistado: A partir dessa pesquisa, entendemos que cabe aos manuais escolares de gramática descrever o que realmente está sendo utilizado pelos falantes, e não formas abstratas que caíram em desuso no decorrer dos anos. Essa mudança proporcionaria mais interesse e proximidade dos alunos em relação à gramática do português brasileiro, pois eles contemplariam a representação da língua utilizada por eles, na escrita e na fala. Eles se sentiriam realmente falantes da língua portuguesa, e não aprendizes distanciados do conteúdo estudado.


Mastigando Letras: Dá muito trabalho realizar pesquisa?

Entrevistado: Para pesquisar é necessário muita leitura e análise das informações, o que acaba tomando muito tempo de um estudante. Para nós, que vivemos uma jornada dupla entre trabalho e faculdade, não foi uma tarefa fácil. Por isso, agradecemos todo auxílio fornecido pelo nosso orientador. Sem ele, nossas leituras não seriam prazerosas e, consequentemente, o projeto não sairia do lugar.


Mastigando Letras: A pesquisa foi feita de modo voluntário ou com bolsa?

Entrevistado: A pesquisa foi feita de modo voluntário, sem o recebimento de bolsas.


Mastigando Letras: Valeu a pena ter vivenciado esta experiência na realização de uma pesquisa?

Entrevistado: Não temos dúvidas de que sim! Além de adquirimos muito conhecimento a partir dessa pesquisa, também expandimos o acesso a esse conhecimento para mais pessoas. É fundamental a problematização do confronto entre a norma prescrita pelas gramáticas e o uso da língua em situações reais de fala. Ficamos muito felizes de poder contribuir para o desenvolvimento da área de Letras.


Mastigando Letras: Que conselhos você daria para alguém que deseja algum dia experimentar fazer uma pesquisa?

Entrevistado: Aconselhamos a escolha da área e do tema da pesquisa de acordo com o que a pessoa mais gosta, passar meses lendo algo que não gosta pode ser maçante e desmotivador. Outros fatores importantes são o estudo e a leitura intensa sobre o assunto que será pesquisado, deste modo, não haverá lacunas e nem inseguranças no desenvolvimento e exposição do trabalho. Também é fundamental que seja dedicado bastante tempo para essa pesquisa, assim, ela será aperfeiçoada a cada dia que se passar.


Mastigando Letras: Já apresentou a pesquisa em eventos científicos? Se sim, como foi esta experiência? Se não, quando será sua apresentação?

Entrevistado: Já apresentamos a pesquisa no 29º Encontro Anual de Iniciação Científica (2020). Ficamos muito orgulhosas de ver nosso trabalho exposto em um evento com pessoas que, assim como nós, contribuíram tanto para as pesquisas de nossa universidade. Estávamos um pouco nervosas por ser a nossa primeira apresentação de pesquisa, porém a felicidade de ver o reconhecimento do nosso empenho e trabalho se sobressaiu.


Muito obrigado pela entrevista! E parabéns pelo trabalho!!!