Entrevista

Literatura de cordel: propostas lúdicas no processo de ensino aprendizagem

Foto criada por jannoon028.

Hoje falamos com os pesquisadores Anna Clara Gobbi dos Santos e Alan Sanches da Silva, alunos da graduação do curso de Letras Português-Inglês. Eles foram orientados pela professora Margarida da Silveira Corsi, em sua pesquisa intitulada "Literatura de cordel: propostas lúdicas no processo de ensino aprendizagem ".

25-08-2021

Mastigando Letras: Qual o tema de sua pesquisa? O que foi pesquisado?

Entrevistados: A nossa paixão pela literatura de cordel se tornou tema da pesquisa que iniciamos em 2019. O início de tudo ocorreu a partir de reflexões tecidas no projeto de extensão Cordel em Exposição (você pode conferir o Site e o Instagram).

Notamos, na nossa prática em sala de aula, que esses textos são abordados, muitas vezes, de forma estigmatizada; por isso, propomos estratégias pedagógicas baseadas em jogos didáticos a fim de ressignificar a aprendizagem dos alunos e colocá-los no centro do processo.


Mastigando Letras: De qual teoria ou de quais autores você se utilizou para realizar sua pesquisa?

Entrevistados: Nos baseamos na provocação feita por Silva (2018) quando diz que a literatura se mostra, na escola, monotemática e excludente. Logo, diante das colocações de Marinho e Pinheiro (2012), buscamos uma abordagem que possa ser, de fato, experimentada e não vista como algo afastado da realidade. Essa abordagem corre na linha das metodologias ativas, propostas por José Moran e Lilian Bacich (2017). Diante disso buscamos, a partir de Vigotski (1989), construir jogos que exercitem habilidades visuais, auditivas e psicomotoras, o senso lógico e as múltiplas inteligências.


Mastigando Letras: Você poderia falar um pouco dos métodos e procedimentos que você se utilizou para realizar a sua pesquisa?

Entrevistados: Realizamos uma pesquisa bibliográfica dos documentos oficiais a respeito do uso da literatura de cordel em sala de aula. Depois, fizemos um levantamento acerca da vida e obra dos principais cordelistas e estudamos metodologia e classificação de jogos.

Para a construção dos games, foram lidos e digitalizados mais de 150 folhetos.


Mastigando Letras: Que dificuldades você encontrou para realizar sua pesquisa?

Entrevistados: Veja bem, estamos no Paraná e a literatura de cordel é mais popular na região Nordeste do Brasil, por isso, encontrar os folhetos é um desafio. Claro, muitos deles estão disponíveis em bibliotecas virtuais, mas nos preocupamos em buscar títulos mais novos; “saídos do forno”, para integrar nossos jogos.

Além disso, temos um cuidado especial com o design para que o aluno, em contato com o material, tenha vontade de jogá-lo e assimile, por meio da tipografia e figuras, elementos da literatura e da cultura em questão.



Mastigando Letras: Você poderia agora nos contar sobre os resultados encontrados por sua pesquisa?

Entrevistados: Durante este primeiro projeto, realizamos dois jogos físicos prontos. O primeiro jogo idealizado foi um dominó baseado no romance A Megera Domada em cordel de Marco Haurélio (2007) para o trabalho com língua inglesa. As palavras em Língua Inglesa não foram escolhidas ao acaso, são elementos importantes de serem lembrados e que corroboram com a construção da história. Além disso, a identidade visual das cartas respeitou os elementos artísticos que compõem os folhetos: a tipografia semelhante e as xilogravuras.

O segundo jogo idealizado chama-se Aluado, e tem por objetivo responder corretamente as adivinhas e chegar à última casa do tabuleiro. É composto por 1 tabuleiro que mede 50x50cm; 170 cartas divididas em 5 grupos; 100 moedas; 1 dado e 10 peões. O tabuleiro conta com três principais tipos de casas: “UAI!”, “milho”, “pamonha” e “oxente! perdeu tudo”. As cartas são divididas, conforme exposto, em 5 principais grupos: Uai!, milho, história, ciências e artes. Para as cartas “Uai!”, foram escolhidos trechos com adivinhas difíceis; em “milho”, adivinhas fáceis, mas de conteúdo variado; em “história” estão contidas estrofes sobre acontecimentos e personalidades que fizeram história no âmbito regional ou internacional; para “ciências”, escolheu-se textos que tratam sobre o meio ambiente, saúde, astronomia, enfim, temas que abordam as ciências naturais; finalmente, as cartas de “artes” abordarão elementos artísticos de todas as esferas: pintura, escultura, literatura, cinema, etc.

Já temos novos jogos a caminho, em projeto recentemente iniciado e intitulado Literatura de Cordel: como os jogos podem ser aliados nos de ensino e aprendizagem… Mas isso é conversa para outro dia.


Mastigando Letras: Em que sua pesquisa colaborou ou contribuiu?

Entrevistados: A pesquisa contribui para auxiliar os professores na abordagem de literatura de cordel em sala de aula; em consequência disso, desencadeamos uma onda de valorização pela cultura nacional.


Mastigando Letras: Dá muito trabalho realizar pesquisa?

Entrevistados: Já ouviu falar daquela frase “trabalhe com o que você ama e não precisará trabalhar nunca mais”? Acreditamos que ela se aplica muito bem a essa pergunta. De um lado, temos um grande volume de leitura, tanto para o corpus (folhetos), quanto para o embasamento teórico. Por outro lado, principalmente no que diz respeito ao produto finalizado, temos uma satisfação imensa! Por isso, o trabalho duro é recompensado.


Mastigando Letras: Sua pesquisa foi feita de modo voluntário ou com bolsa?

Entrevistados: A pesquisa foi realizada de modo voluntário.


Mastigando Letras: Valeu a pena ter vivenciado esta experiência na realização de uma pesquisa?

Entrevistados: Com certeza! Tivemos ótimas experiências! Pela relevância do nosso tema, a pesquisa abriu muitos horizontes: além da valorização da cultura nacional, em um aspecto social, esses estudos contribuíram para a nossa experiência como (futuros) professores, porque há todo um trabalho a ser feito antes da implantação de um jogo na sala de aula.


Mastigando Letras: Que conselhos você daria para alguém que deseja algum dia experimentar fazer uma pesquisa?

Entrevistados: É preciso ter muita persistência, sabe? No Brasil, infelizmente, a pesquisa não é muito incentivada e aqueles que fazem ciência não são amparados pelos órgãos governamentais, que deveriam financiar e assistir os pesquisadores. Então, quando tudo parecer desmoronar, nossa dica é manter a calma.


Mastigando Letras: Já apresentou sua pesquisa em eventos científicos? Se sim, como foi esta experiência? Se não, quando será sua apresentação?

Entrevistados: Sim… já apresentamos no Seminário Internacional de Letras da Fronteira Sul, no I Simpósio Nacional de Metodologias Ativas na Educação Profissional e Tecnológica e na V Semana Digital: Reprogramando e inovando com as tecnologias digitais na educação II. Essas experiências nos proporcionaram uma abertura muito grande: levamos uma oficina para os alunos da Escola Estadual Professor Manoel Rodrigues da Silva, do Colégio de Aplicação Pedagógica da UEM. Além disso, os presentes no evento sempre manifestam interesse pela pesquisa, o que é ótimo para gente, sabe? Poder divulgar nosso trabalho e ter reconhecimento em território nacional.



Muito obrigado pela entrevista! E parabéns pelo trabalho!!!

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