Hoje falamos com a pesquisadora Jéssica Akemi Kawano Ribeiro, aluna da graduação do curso de Letras-Inglês. Ela foi orientada pela professora Dra. Roselene de Fátima Coito, em sua pesquisa intitulada "O tabu do objeto: o funcionamento do mecanismo de controle do dizer no livro "Love Upon the Chopping Board".
11-05-2021
Mastigando Letras: Qual o tema de sua pesquisa? O que foi pesquisado?
Entrevistado: Analisamos os controles do dizer sobre a lesbianidade no núcleo familiar japonês.
Mastigando Letras: De qual teoria ou de quais autores você se utilizou para realizar sua pesquisa?
Entrevistado: A pesquisa foi realizada a partir da análise do discurso foucaultiana.
Mastigando Letras: Você poderia falar um pouco dos métodos e procedimentos que você utilizou para realizar a sua pesquisa?
Entrevistado: Lançamos mão de pesquisas realizadas sobre a lesbianidade no Japão, como Chalmers (2002), Reynen (2002) e Robertson (1999). Também analisamos obras que discutem a sociedade japonesa no geral, como Driscoll (2010), Keene (1978), Lebra (2007) e até a própria Constituição Japonesa (1946).
A partir das leituras sobre lesbianidade e Japão, nos aprofundamos em leituras sobre a análise do discurso foucaultiana e também sobre o biopoder e a necropolítica. Entre eles, citamos as obras de Foucault: História da sexualidade I: a vontade de saber (1988), Em defesa da sociedade (2000), A ordem do discurso (2014) e Vigiar e punir (2018); e a obra de Achille Mbembe, Necropolítica (2019).
Mastigando Letras: Que dificuldades você encontrou para realizar sua pesquisa?
Entrevistado: A principal dificuldade encontrada no decorrer da pesquisa foi a falta de materiais sobre o tema, por essa razão, trabalhamos majoritariamente com textos em inglês.
Mastigando Letras: Você poderia agora nos contar sobre os resultados encontrados por sua pesquisa?
Entrevistado: Fomos capazes de constatar que a lesbianidade no Japão ainda é um assunto controlado e evitado. O controle do discurso lésbico na sociedade japonesa dá uma falsa impressão de aceitação, porém, essa aceitação está limitada ao papel clandestino que a sexualidade e a vida pessoal dessas mulheres exercem na sociedade. Assim, os corpos das lésbicas tornam-se corpos dóceis e seus discursos sobre sua própria sexualidade são silenciados.
Como constatado no decorrer da pesquisa, o silêncio atinge as lésbicas e homossexuais mundialmente. Contudo, o Japão possui relações ainda mais delicadas, por possuir uma cultura que baseia todas as suas relações no silêncio, seja para agradar, manter as aparências ou evitar conflitos. Destacamos também a tradição conservadora e supostamente homogênea reproduzida no país, onde todos são considerados de uma mesma raça, sexualidade e cultura.
Certamente, a suposta homogeneidade da cultura japonesa é inviável. Levando o “outro”, o não-heterossexual, o não-silencioso ao ostracismo. Mais do que uma violência direta, os homossexuais no Japão são silenciados e escondidos a duras penas, na maioria das vezes não se assumindo para a família e para a sociedade. No ditado japonês: “é melhor deixar não dito”.
Mastigando Letras: Em que sua pesquisa colaborou ou contribuiu?
Entrevistado: A pesquisa colaborou para a minha formação como pesquisadora, permitindo que eu me aprofundasse nos estudos sobre análise do discurso, Japão e lesbianidade. Ademais, acredito que possa contribuir para a comunidade, acadêmica ou não, ao discutir um tema pouco abordado e de grande relevância.
Mastigando Letras: Dá muito trabalho realizar pesquisa?
Entrevistado: A pesquisa requer muito trabalho, leitura e análise. Contudo, é um processo prazeroso e recompensador.
Mastigando Letras: Sua pesquisa foi feita de modo voluntário ou com bolsa?
Entrevistado: A pesquisa foi realizada de modo voluntário.
Mastigando Letras: Valeu a pena ter vivenciado esta experiência na realização de uma pesquisa?
Entrevistado: Com certeza! Realizar essa pesquisa foi um motivo de grande alegria e orgulho em minha trajetória acadêmica.
Mastigando Letras: Que conselhos você daria para alguém que deseja algum dia experimentar fazer uma pesquisa?
Entrevistado: Que tenha um objeto bem delimitado, de preferência que seja de seu interesse, que seja muito paciente e procure materiais confiáveis sobre o tema.
Mastigando Letras: Já apresentou sua pesquisa em eventos científicos? Se sim, como foi esta experiência? Se não, quando será sua apresentação?
Entrevistado: Felizmente, tive algumas oportunidades de compartilhar o meu trabalho, seja em eventos ou publicações. Apresentei no evento A Arqueologia do Saber: 50 anos (2019) e no EAIC (2020). Além disso, eu e minha orientadora publicamos no livro Mulher, multiplicidade e Linguagem, organizado por Aline Rodrigues dos Santos e Bruna Plath Furtado (2020). A experiência foi muito boa, pois pude compartilhar um pouco da minha pesquisa e ouvir os apontamentos dos alunos e professores que estavam participando.
Muito obrigado pela entrevista! E parabéns pelo trabalho!!!