Entrevista

Estruturas de Topicalização No Português Brasileiro: Comparação entre Oralidade e Escrita

Foto do acervo pessoal da entrevistada.

Hoje falamos com a pesquisadora Daiara Neri Godoi Franzão, aluna da graduação do curso de Letras Português-Inglês. Ela foi orientada pelo professor André Luis Antonelli, em sua pesquisa intitulada "Estruturas de Topicalização No Português Brasileiro: Comparação entre Oralidade e Escrita".

19-04-2021

Mastigando Letras: Qual o tema de sua pesquisa? O que foi pesquisado?

Entrevistado: O principal objetivo da pesquisa foi quantificar esse fenômeno tão recorrente na linguagem falada, que é a formação de tópicos, e verificar se ele, de fato, é exclusivo da oralidade. Outro objetivo foi entender o funcionamento e a derivação dessas construções tão comuns. Alguns autores atribuem o tópico à tentativa de embelezamento da língua, ao inverter-se os constituintes, mas quando ouvimos um senhorzinho da feira dizer: “abobrinha... nóis não tem hoje” ou quando aquela tia – num comentário nada maldoso – solta: “o Pedro... eu vi ele na rua, depois da meia noite, sábado”, fica visível que não estão preocupados em poetizar ou deixar a fala bonita. Por isso, verificamos os possíveis fatores que favorecem ou desfavorecem essas sentenças topicalizadas.


Mastigando Letras: De qual teoria ou de quais autores você se utilizou para realizar sua pesquisa?

Entrevistado: A pesquisa foi pautada na Gramática Gerativista e nas discussões das autoras Pontes, Grolla, Orsini... e alguns outros.


Mastigando Letras: Você poderia falar um pouco dos métodos e procedimentos que você se utilizou para realizar a sua pesquisa?

Entrevistado: Então... foram utilizados dois corpora, um de linguagem oral e outro composto de notícias publicadas em jornais. Cinco tipos de tópicos, propostos pelas autoras basilares, foram analisados, quantificados e comparados entre as duas modalidades. Flexão do verbo, presença de preposição, e retomada do tópico por pronome foram algumas variáveis levadas em consideração para tentar entender a topicalização na nossa língua e o porquê da sua recorrência.


Mastigando Letras: Que dificuldades você encontrou para realizar sua pesquisa?

Entrevistado: A maior dificuldade foi a coleta de dados, pois não é uma pesquisa que você pode ir na “lupinha” e encontrar o total de ocorrências. Foi preciso analisar sentença por sentença, com paciência e cuidado. Ainda mais, porque eu não me propus selecionar “qualquer” topicalização, apenas as que o tópico fosse um argumento do verbo... então, algumas vezes era preciso analisar regência verbal e tal. No início, foram longos meses apenas nesse trabalho e o professor André me ajudou muito, revisando todas as sentenças que eu selecionava e tentando desvendar alguns discursos transcritos do corpus oral.


Mastigando Letras: Você poderia agora nos contar sobre os resultados encontrados por sua pesquisa?

Entrevistado: Resumindo bem... embora o tópico seja predominante na linguagem oral, também encontramos topicalizações nos textos jornalísticos. Em termos sintáticos, concluímos que o verbo sempre estava flexionado nas construções e os argumentos não preposicionados são mais passíveis de topicalizar-se. Além disso, se esse fenômeno ocorre até em textos jornalísticos, que possuem um formato bem definido, revisão para publicação e não há necessidade de ser um texto poético e embelezado, então o tópico já está “gramaticalizado” no Português Brasileiro e precisa ser mais estudado.


Mastigando Letras: Em que sua pesquisa colaborou ou contribuiu?

Entrevistado: Acredito que minha pesquisa, além das discussões, trouxe números, o que eu não encontrei durante todo o meu processo de estudo e investigação. O tópico evidencia o que o falante pretende evidenciar e esses números podem trazer à tona o quão comum são as topicalizações e que, talvez, nós estejamos caminhando para uma “língua de tópicos”.

Enfim... Por que, então, isso não é visto e discutido nas escolas? Por que o tão recorrente tópico é ensinado como “aquilo que sobra e não faz parte da sentença”? Por que ele precisa ser evitado? Por que a oralidade é sempre tratada como inferior à escrita? Por que as regras das gramáticas e dos dicionários ditam o “correto” e não a língua viva e em uso? Espero que novos estudos sobre esse assunto sejam feitos e que algumas discussões sejam levadas aos livros didáticos de Português dos ensinos fundamental e médio, nas escolas brasileiras.


Mastigando Letras: Dá muito trabalho realizar pesquisa?

Entrevistado: Sim... dá. Principalmente no início, para selecionar bibliografia, coletar dados etc. É muito gratificante, no entanto, concluir algo que deu bastante trabalho.


Mastigando Letras: Sua pesquisa foi feita de modo voluntário ou com bolsa?

Entrevistado: Voluntário... sem bolsa.


Mastigando Letras: Valeu a pena ter vivenciado esta experiência na realização de uma pesquisa?

Entrevistado: Nossa... demais!! Eu sempre amei a área de pesquisa e, em especial, a descrição e a análise linguística, então, apesar do trabalho, foi empolgante e incrível estudar aquilo que eu gosto tanto.


Mastigando Letras: Que conselhos você daria para alguém que deseja algum dia experimentar fazer uma pesquisa?

Entrevistado: "SÓ VÁ"... (risos). A pesquisa precisa ser feita naquela área que você realmente se identifica e, assim, não tem erro. É um prazer desenvolver um trabalho que vai colaborar em suas pesquisas futuras e em sua profissão. Ninguém perde ao adquirir conhecimentos.


Mastigando Letras: Já apresentou sua pesquisa em eventos científicos? Se sim, como foi esta experiência? Se não, quando será sua apresentação?

Entrevistado: Apresentei de modo remoto, no 29º Encontro de Iniciação Científica (EAIC de 2020), e foi uma experiência única. Eu não imaginava que teria que apresentar a pesquisa assim, mas foi enriquecedor compartilhar parte dos meus estudos.


Mastigando Letras: Muito obrigado pela entrevista! E parabéns pelo trabalho!!!