Entrevista

Para História do Português Brasileiro em Maringá: a concordância nominal nos falares dos primeiros habitantes da cidade

Foto do acervo pessoal da entrevistada.

Hoje falamos com a pesquisadora Jhennifer Bernardini Santin, aluna da graduação do curso de Letras Português-Inglês. Ela foi orientada pelo professor Hélcius Batista Pereira, em sua pesquisa intitulada "Para História do Português Brasileiro em Maringá: a concordância nominal nos falares dos primeiros habitantes da cidade".

07-04-2021

Mastigando Letras: Qual o tema da pesquisa? O que foi pesquisado?

Entrevistado: O tema da nossa pesquisa foi o uso da concordância nominal de número pelos pioneiros da cidade de Maringá. Em nosso trabalho, buscamos verificar se havia variações nas falas desses habitantes e como elas aconteciam.


Mastigando Letras: De qual teoria ou de quais autores você se utilizou para realizar sua pesquisa?

Entrevistado: O conceito de “comunidade prática”, de Eckert e McConnell-Ginet, e os trabalhos de concordância nominal em dialetos do Português Brasileiro, de Scherre e Naro, foram fundamentais para a realização da pesquisa, mas também nos baseamos em outros autores, como Tomazi, que forneceu uma melhor compreensão do conceito de “pioneiro” e do contexto do norte do estado do Paraná.


Mastigando Letras: Você poderia falar um pouco dos métodos e procedimentos que se utilizou para realizar a pesquisa?

Entrevistado: O corpus do nosso trabalho foi constituído por três entrevistas orais, com os pioneiros Leonor do Lago Ferreira, Tercílio Men e Zico Borghi. As entrevistas foram realizadas por Miguel Fernando, no ano de 2011, e foram transmitidas no formato de programa de rádio, durante dois anos, na RUC FM (Rádio UniCesumar). Felizmente, encontramos o conteúdo disponível no site do projeto Maringá Histórica. Após a etapa de seleção, transcrevemos as entrevistas, separamos os sintagmas nominais que apresentavam casos de concordância nominal e classificamos cada elemento presente nesses sintagmas. Por fim, buscamos contabilizar e analisar todos os dados obtidos, tendo como apoio as teorias dos autores previamente mencionados.


Mastigando Letras: Que dificuldades você encontrou para realizar sua pesquisa?

Entrevistado: Acredito que as maiores dificuldades foram transcrever as entrevistas (pois eram extensas – cerca de 20-50 minutos cada – e, em alguns casos, era necessário repetir o áudio várias vezes para entender uma parte específica do que o falante disse) e selecionar e classificar os sintagmas (considerando a quantidade de dados que reunimos). Mas tive bastante apoio do meu orientador em todas as etapas da pesquisa, e isso me ajudou muito.


Mastigando Letras: Você poderia agora nos contar sobre os resultados encontrados por sua pesquisa?

Entrevistado: Foi possível concluir que, apesar de os pioneiros possuírem alguns pontos em comum, tanto linguisticamente quanto socialmente, há características importantes que os diferem, ainda que tenham morado no mesmo município e na mesma época, ou vindo do mesmo local. Leonor apresenta uma relação mais forte com o ambiente urbano e uma tendência maior para o uso da concordância padrão, em 78% dos sintagmas analisados. Diferentemente, Zico foi o pioneiro que se mostrou mais ligado ao ambiente rural, apresentando uma tendência para a concordância nominal variável durante toda a entrevista (100% dos sintagmas), até mesmo, ao ler um poema (de sua autoria). Por fim, Tercílio se mostrou mais dividido entre o rural e o urbano, com o uso de concordância padrão em 58% dos sintagmas.


Mastigando Letras: Em que sua pesquisa colaborou ou contribuiu?

Entrevistado: Considerando a necessidade de realização de estudos sobre a formação histórica da língua, acredito que contribuiu para um maior conhecimento sobre a sócio-história local – que também vem sendo investigada por pesquisadores de outras áreas –, trazendo o olhar da Linguística sobre a língua em uso desde a fundação da cidade.


Mastigando Letras: Dá muito trabalho realizar pesquisa?

Entrevistado: Sim, pois pesquisar é algo que exige tempo, atenção, dedicação, paciência, entre outras coisas. Por isso, é fundamental trabalhar com um tema pelo qual você tenha interesse ou, até mesmo, paixão. Além disso, com apoio e motivação, a pesquisa, com certeza, fluirá melhor. No final, apesar dos desafios e das dificuldades que podem surgir, penso que tudo vale a pena! É uma experiência muito enriquecedora.


Mastigando Letras: Sua pesquisa foi feita de modo voluntário ou com bolsa?

Entrevistado: Foi feita de modo voluntário.


Mastigando Letras: Valeu a pena ter vivenciado esta experiência na realização de uma pesquisa?

Entrevistado: Sim, valeu muito a pena! Acredito que a iniciação científica é uma experiência valiosa para qualquer discente de graduação. Sempre aprendemos não só sobre o tema pesquisado, mas também sobre o ato de pesquisar em si.


Mastigando Letras: Que conselhos você daria para alguém que deseja algum dia experimentar fazer uma pesquisa?

Entrevistado: Primeiramente, escolha um tema com o qual você tenha afinidade, depois, leia bastante sobre o assunto – isso será fundamental para o desenvolvimento de sua pesquisa. Além disso, não se desanime se encontrar dificuldades, pois isso é normal, e tudo será muito gratificante no final.


Mastigando Letras: Já apresentou sua pesquisa em eventos científicos? Se sim, como foi esta experiência? Se não, quando será sua apresentação?

Entrevistado: Sim, apresentei a pesquisa no 29º Encontro de Iniciação Científica (EAIC) da UEM. Eu já havia participado da edição anterior do evento, mas posso dizer que tive uma experiência totalmente diferente, tendo em vista que o evento foi realizado de forma remota em 2020. Inicialmente, tive um certo receio, por não ter muito domínio das ferramentas de gravação e edição de vídeo, mas a equipe responsável pela organização do evento ofereceu bastante suporte nesse sentido. Foi uma ótima oportunidade para compartilhar o trabalho realizado e, também, para conhecer as pesquisas feitas por outras pessoas.


Muito obrigado pela entrevista! E parabéns pelo trabalho!!!