Ensino e Discurso

Que a Mágica Aconteça!

09-12-2020Por: Fabiana Flossfabianafloss@gmail.com(Aluna do Curso de Letras Português)Orientador: Pedro Navarro
Figura 1: Yo soy lector on Twitter. Pinterest, 2020. Figura 1: Yo soy lector on Twitter. Pinterest, 2020. Disponível em: <http://br.pintrest.com/pin/555772410243772331>. Acesso em: 19, Out 2020.

E se eu te contasse um segredo... Algo tão espetacular, extraordinário, incrível e miraculoso que vai revolucionar sua vida, e o que é mais louco de tudo, algo que está totalmente, completamente e absurdamente ao seu alcance?! Huumm... Nesse momento, você que está na graduação de Letras, assim como eu, ou que pensa em se juntar a essa galera da balburdia deve estar pensando:

__ Hiiii! Lá vem um daqueles produtos “tabajara”, fórmulas milagrosas para secar a barriga e transformar a mente em um supercomputador! Iogurte da “Top Therm”, “Maratona da Riqueza,” “20 passos para a felicidade...”

Nananinanão!

O que vou apresentar a vocês é um processo de produção de sentido, que fará todo o sentido! E sabe qual é a ferramenta, ou melhor, a engrenagem que aciona essa reação em cadeia? Vou lhes pronunciar a palavra mágica!... Preparados? Lá vai: LEITURA!!! (Tcham tcham tchammmm!)

Não pensem que não farejo, entre os que estão lendo essas palavras, os incrédulos! Sujeitos de pouca fé! (Exato, estou levantando hipóteses a seu respeito! Aliás, falaremos disto também!) Ou apenas estudantes que se sentiram estudados a vida inteira, expostos a propostas de ensino com concepções redutoras e limitantes norteando o trabalho dos professores em sala de aula. Eu entendo e acolho cada uma das suas feridas... Sim... Como vocês, já:

  • Li em voz alta sem abstrair uma única palavra, quase que maquinalmente repetindo os símbolos gráficos;

  • Considerei-me por algum tempo um leitor “pai de santo” apenas recebendo e decodificando as mensagens sem que essas me fizessem sentido;

  • Depois, veio a época em que qualquer interpretação diferente do caderno de respostas do professor era desprezada, lembro que me sentia pensando dentro de uma caixa...

  • Ah! Houve a fase do saca-rolha, ou detector de metais! Como uma busca ao tesouro, lia-se todo o texto procurando uma única frase ou trecho que faria sentido.

  • Evoluindo nesse caminho, cheguei à leitura com manual de instrução: ler, grifar, verificar vocabulário, responder questionário, trabalhar a gramática e produzir uma redação... Quase como montar um guarda-roupa... Se bem que se for um guarda-roupa, quem sabe ele não venha com uma passagem para Nárnia!

  • E, por fim, a fase que mais abalou minhas estruturas: Ler é apreciar os Clássicos! Não apreciei, não gostei, até me desestimulei com a leitura, o que me parecia impossível, entretanto, a maturidade nos faz ver e rever as coisas com outros olhos e, em um segundo momento, reconheci o valor e a apreciação da cultuada literatura...

(Antes tarde que mais tarde!).

Muito bem! Depois desse “Mea culpa” em que todos desabafamos, lavamos “as páginas sujas”, hora de mudar nossos conceitos, DE-FI-NI-TI-VA-MEN-TE!

Vamos começar abrindo essas mentes! Rasguem as caixas, arranquem os antolhos e percebam que texto é qualquer manifestação da linguagem humana! Isto quer dizer que:

Texto é cinema?... SIIIM!

Texto é arte?...SIIIM!

Texto é uma música?... SIIIM!

Texto é leitura verbal, literatura, escrita?... SIIIM!

O termo texto aqui empregado abrange todas essas manifestações. É o elo, mediador na relação íntima entre leitor e autor (como acontece agora, nesse nosso breve, porém intenso – espero – relacionamento!). Independentemente da sua manifestação, o texto irá nos apresentar um sujeito, uma espécie de vestimenta, voz, entidade que o autor usará para manifestar o contexto. Vejamos alguns exemplos:

Exemplo1:

‘Meu orgulho caiu quando subiu o álcool

Aí deu ruim pra mim

E, pra piorar, 'tá tocando um modão

De arrastar o chifre no asfalto...” (ZÉ NETO; CRISTIANO. Largado as Traças. Acústico. Som Livre, 2018. Disponível em: <https://www.musixmatch.com/pt-br>.)

Na música “Largado às Traças” de Zé Neto e Cristiano, o sujeito é um indivíduo vivendo intensamente uma desilusão amorosa, em que a bebida e a música agravaram sua dor;

Exemplo2:

Figura 2: Armandinho e a Opinião Pronta. GGN: O Jornal de Todos os Brasis, 2015. Figura 2: Armandinho e a Opinião Pronta. GGN: O Jornal de Todos os Brasis, 2015. Disponível em: <https://jornalggn.com.br/sociedade/armandinho-e-a-opiniao-pronta/>. Acesso em: 19, Out. 2020.

O personagem Armandinho, criado pelo cartunista Alexandre Beck, é um menino no início da fase escolar que tem um pensamento crítico mais desenvolvido do que muitos adultos é um sujeito questionador.

Exemplo 3:

Figura3: Post para rede sociais. F.F. Obscuro Admirador: White Tulip, 2019.Figura3: Post para rede sociais. F.F. Obscuro Admirador: White Tulip, 2019. Disponível em: <http//:www.facebook.com/F.F.Escrevivvendo>. Acesso em: 19, Out. 2020.

Em uma cena do livro “Obscuro Admirador: White Tulip”, o pai é o sujeito que conversa com a filha, dialoga, expõe suas experiências e conselhos.

Contudo, o sujeito nada seria sem a situação em que está inserido:

  • No primeiro caso, o indivíduo aparentemente está em um bar, presenciou ou descobriu uma situação de traição que está lhe causando sofrimento intenso;

  • Na segunda situação, um menino observa as atitudes dos adultos, a necessidade da vida moderna de consumir tudo pronto, rápido, deixando-se levar pela opinião mastigada e de fácil digestão;

  • No contexto três, pai e filha conversam sobre as leis da vida, sobre ter filhos, relacionamentos...

O que acabamos de fazer foi criar uma situação, seja ela social, histórica, política, banal, etc... Usamos nossas memórias, inferências. Imagens foram criadas ou acessadas em nossa mente consciente e inconscientemente durante esse processo ultra, hiper, mega rápido utilizado para levantar hipóteses sobre cada exemplo.

Isso, meus caros, só acontece acionando todas as nossas bagagens das diferentes formas de leitura dos textos que a vida nos apresentou e apresenta durante a nossa própria construção pessoal, porém, para formalizar a ocasião, colocaremos nome e sobrenome sobre essas ações, denominando-as Condições de Produção.

Preciso me desculpar com vocês... Em minha ânsia por desvendar toda a magia arrolada no entendimento da leitura, acabei por colocar os bois na frente da carroça... Sei que a maioria dos autores gostam de iniciar pelo processo das práticas que desenvolvem a leitura, entretanto, contudo, todavia, porém... Começar empatizando-me com as “pendências” do processo que ambos poderíamos ter, pareceu-me tentador... Precisava dizer a vocês que não estão só, que aqui, do outro lado do texto, existe também um leitor que muitas vezes não compreendeu o que leu devido à formação escolar deficiente ou falta dela!

Sendo assim, antes tarde que mais tarde, apresento-lhes as Práticas de Leitura e o seu papel fundamental na conclusão do “feitiço”, ou melhor, do processo de produção de sentido.

Bem ou mal, sempre que exercemos a atividade de leitura acabamos por adquirir algo ou alguma coisa, falo de conhecimento, lazer, entretenimento, contexto histórico, novas linhas de pensamento. Leitura ocorre como busca de informação e não se faz obrigatoriamente apenas por jornais ou livros científicos, não! Agora mesmo isso está acontecendo com você!

No caso da leitura como estudo de texto, busca-se o debate de ideias, a arquitetura do texto, sua coesão, argumentos e contra-argumentos, você leitor conversando com o que está lendo, assimilando, fazendo inferências e se referenciando do que está sendo servido.

Ok! Depois de se informar e de dialogar com o texto, a leitura nos oferece a Prática do texto como Pretexto. Como assim? Simples! Quantas obras você já não leu ou viu influenciadas por algum tipo de leitura que o autor “X” fez de um autor “Y”? Ouso ainda mais... “Até tu Brutus!” tenho certeza já reconstruiu por meio de um poema, uma produção textual ou apresentação de teatro, algum livro, filme, notícia que lhe fora apresentado, informado e processado.

E, por fim, a queridinha, unanimidade nacional, mundial, absoluta, salve, salve! A leitura de fruição! Aquela que te pega sem avisar, te joga na parede e te chama de leitor! Ela! A coisa mais linda, mais cheia de graça, que vem e que passa e deixa em você novas formas de ver e rever o mundo ao seu redor. Totalmente desinteressado, desapegada dos resultados terrenos, porém tão importante, relevante e marcante quanto qualquer outra prática mencionada.

Será que ficou claro? Vejamos:

Práticas de leitura

+

Condições de Produção

Processo de Produção de Sentido

Acreditem em mim! Eu faço isso, você faz isso, nós fazemos isso!

Muitas vezes, de modo inconsciente, sem o conhecimento que essas técnicas existam. O fato de termos acesso a tais ferramentas contribui, agrega, nos reconstrói como leitores, escritores e/ ou verbalizadores, visto que somos ou seremos portadores da magia de ensinar e, por consequência, formadores de opinião, de pensamento crítico e de sujeitos questionadores, cujas memórias quiçá nos incluirão no hall de pessoas que fizeram a diferença em sua vida de leitores durante nossa jornada como professores.


Referências Bibliográficas

GERALDI, João Wanderley. et al. (orgs.). O texto na sala de aula. 3. ed. São Paulo: Ática, 1999.

MARTINS, M. H. O que é leitura. 19ª. São Paulo: Brasiliense, 2005.

ORLANDI, Eni P. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. 3.ed. São Paulo: Pontes, 2001.

SILVA, Ezequiel Theodoro. Concepções de leitura e suas consequências no ensino. Perspectiva, Florianópolis, v. 17, n. 31, p. 11-19, jan./jun. 1999.