Ensino e Discurso

O que um texto (não) tem para dizer?

A concepção de leitura com foco no texto e as suas limitações

27-10-2021Por: Élica Vorpagel Biff (elicavorpagel1@gmail.com)Aluna de Letras Português-InglêsOrientadora: Profª Ms Giordana França Ticianel

Durante a formação dos alunos do curso de Letras, muitos textos surgem para serem lidos, interpretados, corrigidos, revisados, produzidos e assim por diante, pois o que não falta nessa graduação é o trabalho a partir da leitura de um texto. Nada mais justo, então, do que falar aqui sobre um texto que tem como assunto justamente os modos apropriados e não apropriados de se fazer uma leitura (isso considerando algumas vertentes de pensamento, é claro). “Perspectivas no estudo da leitura: Texto, leitor e interação social'', de Vilson Leffa, traz uma reflexão sobre os objetos que estiveram no foco do processo de leitura durante determinados momentos da história.

Para esta publicação, optei por falar sobre a primeira das concepções abordadas por Leffa: a leitura através da perspectiva do texto. Para essa linha de pensamento, muito popular na segunda metade do século XX, todas as informações necessárias para a compreensão e interpretação do texto estão pura e somente no próprio texto. O leitor não precisa de bagagem sociocultural, nem se preocupar com informações nas entrelinhas e muito menos quebrar a cabeça com mensagens implícitas; porque o texto entrega explicitamente tudo o que há para saber, sem mistério algum. Sob essa perspectiva, todos os leitores – estando eles no mesmo nível – fazem exatamente a mesma leitura do texto, pois eles só precisam extrair as informações apresentadas na obra lida. Essa concepção defende, ainda, um modelo de estruturação textual que, se seguido corretamente, promete padronizar a maneira de se aprender um texto de estrutura e vocabulário simples, no qual a única função do leitor é decodificá-lo.

Não é difícil de imaginar que inúmeras críticas a essa perspectiva foram surgindo com o tempo. Até porque é evidente, mesmo aos não estudiosos da língua, que um único texto pode ser compreendido de maneiras distintas dependendo do repertório de cada leitor; ou, ainda, a mesma pessoa, ao ler o mesmo texto em momentos diferentes da vida, pode ter impressões divergentes sobre o conteúdo. Assim sendo, há muitos aspectos que influenciam o indivíduo durante uma leitura, pois, no decorrer deste processo, muita coisa acontece na mente do leitor, sendo a decodificação apenas a ponta do iceberg que é a leitura.

https:tirinhasarmandinho.tumbl.com/

Nesta tirinha do Armandinho, por exemplo, podemos observar o movimento de uma mesma palavra que acaba dando margem a duas interpretações completamente diferentes. As impressões que os personagens tiveram sobre o termo “renda” não apenas divergem, mas também se relacionam às experiências e perspectivas de cada um.

De modo geral, podemos concluir que há muito mais em um texto além de palavras. Há um autor, uma intenção, um receptor ativo, uma interação. E, de modo mais geral ainda, devo dizer que há muito mais nesse site para ser lido e apreciado. Escritos realmente bons, que não podem ser entendidos sozinhos, pois como vimos hoje, o texto sem interação não é nada. Então, de leitor ativo para leitor ativo, sugiro que você dê uma olhada em outros conteúdos do nosso site.


Referência:

LEFFA, Vilson J. Perspectivas no estudo da leitura: texto, leitor e interação social. In: LEFFA, Vilson J. ; PEREIRA, Aracy, E. (Orgs.) O ensino da leitura e produção textual - Alternativas de renovação. Pelotas: Educat, 1999. p. 13-37.


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