Ensino e Discurso

A leitura e seus segredos nada secretos

Conceitos e teorias sobre os tipos de leitura existentes

12-01-2021Por: Isabella de Mira Solae-mail: isabellademira18@gmail.com (Aluna do Curso de Letras Português)Orientador: Pedro Navarro

Como estudante de Letras, mesmo que não por muito tempo, já tive grande aprendizagem a respeito das concepções de leitura, suas práticas e como se dá o processo de produção de sentidos. Neste artigo, pretendo expor a vocês, leitores da Revista dos Acadêmicos do Curso de Letras, e aos alunos do Ensino Médio interessados neste curso, todo o conhecimento que obtive a respeito dos assuntos já citados, a fim de poder transferir pelo menos um pouco do meu aprendizado e despertar interesse nessa área.

Primeiramente, a respeito das concepções que temos sobre a leitura, elas são diversas. Porém, existem algumas que são consideradas simplificadas. A respeito do texto estudado em sala de aula, decidi dividi-las em tópicos para que a compreensão ocorra de maneira mais prática.

- A primeira concepção de leitura, se trata da ​leitura em voz alta,​ seguindo toda a entonação do texto como ele é. Geralmente, essa é a leitura mais praticada pelos professores, mas a compreensão do texto pode se perder por conta do formalismo;

- A segunda, se trata apenas da decodificação de mensagens,​ sem que o leitor possa demonstrar propósitos ou sentimentos a respeito da leitura, apenas receber essas mensagens. No entanto, o autor não tem controle da decodificação;

- A terceira concepção, diz respeito ao desprezo pelas possíveis interpretações que um leitor pode ter de um texto, pois ler seria apenas dar respostas a respeito do que foi lido,​ e respostas esperadas como “corretas” (a leitura mais utilizada nas escolas);

- A quarta concepção, é a de que ler é extrair a ideia central do texto, que geralmente não está bem marcada, deve ser procurada pelo leitor;

- A quinta concepção, produz a ideia de que o processo de leitura​ é seguir uma série de passos do livro didático.​ Ler seria oralizar o texto, fazer vocabulário, responder perguntas, aprender gramática e escrever, sem que haja uma variação dessa sequência;

- A sexta concepção, diz que ler seria apreciar os clássicos,​ no​ entanto, um leitor considerado “bom”, é aquele que consegue fazer a leitura de diversos tipos de textos.

Após lermos estas concepções, percebemos que existe uma necessidade de termos mais “liberdade” como leitores, então não devemos levar todas elas ao extremo, para que o prazer pela leitura não se perca ao seguirmos um roteiro. Além disso, isso seria contrário a intenção da escola de formar novos leitores para a sociedade. Dessa forma, após vários estudos, percebemos que a leitura deve existir da interação do leitor com o texto, despertando nele sentimentos, emoções e interesse pelo mesmo, para que não sejamos moldados como leitores.

A respeito das práticas de leitura, temos quatro: a leitura como busca de informações; a leitura estudo do texto; a leitura do texto - pretexto; e a leitura fruição de texto. A primeira delas, tem como objetivo retirar do texto alguma informação, sempre se perguntando “para quê” lê-lo. Sendo assim, pode ser realizada com um roteiro elaborado previamente, pelo próprio leitor ou por outras pessoas, ou até mesmo não utilizar um roteiro. Diante disso, pode-se fazer uma leitura extraindo informações superficiais ou mais profundas, de textos de variados gêneros. Já na segunda, o objetivo desta leitura, é estruturar uma tese, a explicando. Apresentar três argumentos, resumi-los, retomar a tese e propor ultrapassar o fato indicado por esta, de forma que elimine os fatos tomados como argumentos. Ao fazer esta análise, levamos em conta a interpretação de uma leitura possível. Na terceira leitura, se leva em consideração o pretexto em que o leitor se encontra (ex. o aluno dirige sua aprendizagem). O objetivo então, se torna utilizar um texto como pretexto para um tipo de interlocução do leitor com o texto/ autor. No entanto, é preciso retirar os textos de onde se encontram com nossas leituras, mesmo que sejam marcados por esses pretextos. Por fim, na quarta leitura, o objetivo é resgatar o “ler por ler”, e sua utilização geralmente é feita por aqueles que não são profissionais, pois estes leem por prazer. Para recuperar a leitura por fruição, deve-se levar em conta na vivência do leitor três princípios: o caminho do leitor, respeitando a caminhada dele pelo mundo da leitura; o circuito do livro, pois geralmente lemos o que nos é indicado, e quando feito por um não profissional, esse interesse aumenta; por fim, o fato de não haver leitura qualitativa no leitor de um livro, pois a qualidade do leitor dependerá de sua carga literária, neste caso, a quantidade poderá se transformar em qualidade.

Para finalizar, gostaria de trazer a letra da música “pretty hurts”, da cantora internacional Beyoncé, para explicar melhor como se dá o processo de produção de sentidos.

Pretty Hurts


Miss Third Wards, your first question

What is your aspiration in life?

Oh My aspiration in life

Would be to be happy


Mama said, you're a pretty girl

What's in your head it doesn't matter

Brush your hair, fix your teeth

What you wear is all that matters


Just another stage

Pageant the pain away

This time I'm gonna take the crown

Without falling down, down


Pretty hurts

We shine the light on whatever's worse

Perfection is the disease of a nation

Pretty hurts

We shine the light on whatever's worse

Tryna fix something

But you can't fix what you can't see

It's the soul that needs the surgery


Blonder hair, flat chest

Tv says bigger is better

South Beach, sugar free

Vogue says

Thinner is better


Just another stage

Pageant the pain away

This time I'm gonna take the crown

Without falling down, down


Pretty hurts

We shine the light on whatever's worse

Perfection is the disease of a nation

Pretty hurts

We shine the light on whatever's worse

Tryna fix something

But you can't fix what you can't see

It's the soul that needs the surgery


Ain't got no doctor or pill that can take the pain away

The pain's inside

And nobody frees you from your body

It's the soul that needs surgery

It's my soul that needs surgery

Plastic smiles and denial

Can only take you so far

And you break

When the paper sign leaves you in the dark

You left a shattered mirror

And the shards of a beautiful girl


Pretty hurts

We shine the light on whatever's worse

Perfection is the disease of a nation

Pretty hurts

We shine the light on whatever's worse

Tryna fix something

But you can't fix what you can't see

It's the soul that needs the surgery


When you'r alone all by yourself

And you're lying in your bed

Reflection stares right into you

Are you happy with yourself?

It's just a way to masquerade

The illusion has been shed

Are you happy with yourself?

Are you happy with yourself?

Yes

Disponível em: https://www.vagalume.com.br/beyonce/pretty-hurts-traducao.html

A Beleza Machuca


Miss, a sua primeira pergunta

Qual é a sua aspiração na vida?

Oh minha aspiração na vida

É ser feliz


Mamãe disse 'você é uma garota linda'

O que você tem na cabeça não importa

Penteie o seu cabelo, corrija os seus dentes

O que você veste é tudo o que importa


Apenas mais uma etapa

O concurso tira a dor

Desta vez, vou ganhar a coroa

Sem cair, cair


A beleza machuca

Evidenciamos o que temos de pior

A perfeição é a doença da nação

A beleza machuca

Evidenciamos o que temos de pior

Tente reparar algo

Mas você não pode reparar o que não consegue ver

É a alma que precisa de cirurgia


Cabelo loiro, seios pequenos

A Tv diz que quanto maior, melhor

Praia do Sul, sem açúcar

A moda diz

Que mais magra é melhor


Apenas mais uma etapa

O concurso tira a dor

Desta vez, vou ganhar a coroa

Sem cair, cair


A beleza machuca

Evidenciamos o que temos de pior

A perfeição é a doença da nação

A beleza machuca

Evidenciamos o que temos de pior

Tente reparar algo

Mas você não pode reparar o que não consegue ver

É a alma que precisa de cirurgia


Não há médico ou remédio que tire essa dor

A dor está lá no fundo

E ninguém te liberta do seu corpo

É a alma que precisa de cirurgia

É a minha alma que precisa de cirurgia

Sorrisos de plásticos e a negação

Podem somente te levar para mais longe

E você se destrói

Quando o contrato te deixa na escuridão

Você deixou o espelho estilhaçado

E os cacos de uma garota bonita


A beleza machuca

Evidenciamos o que temos de pior

A perfeição é a doença da nação

A beleza machuca

Evidenciamos o que temos de pior

Tente reparar algo

Mas você não pode reparar o que não consegue ver

É a alma que precisa de cirurgia


Quando você está completamente sozinha

E está deitada na sua cama

O reflexo te encara

Você está feliz consigo mesma?

Livre das máscaras

A ilusão foi exposta

Você está feliz consigo mesma?

Você está feliz consigo mesma?

Sim

Disponível em: https://www.vagalume.com.br/beyonce/pretty-hurts-traducao.html

A respeito do sujeito​, podemos fazer a percepção de ser uma mulher, modelo/ miss, que está constantemente exposta aos padrões de beleza impostos pela sociedade. Na situação​ retratada, percebemos que é uma espécie de demonstração da vivência da candidata a miss em questão, que está em busca da perfeição sempre, e sofre com a disputa imposta pela indústria da beleza. No entanto, tem consciência que estes padrões impostos a ela acabam sendo prejudiciais, o que fica evidenciado nos versos “a beleza machuca”, “a perfeição é a doença da nação” e “é a alma que precisa de cirurgia”. Se formos fazer uma análise do clipe da música, vemos todos os sacrifícios das mulheres em nome da beleza padrão, que acabam se submetendo a coisas como distúrbios alimentares e uso de remédios para não sentirem fome e manterem seu peso. É perceptível também, que todas mantêm um sorriso forçado quando estão no palco, mas fora deles, vivem uma rotina dura de trabalho para atingirem a perfeição.

Quando se trata da memória​, é evidente que existe uma forte crítica aos padrões de beleza impostos pela sociedade. Ao longo de vários séculos, os padrões de beleza foram se transformando, mas é certo que sempre foram aqueles considerados inalcançáveis por parte daquelas que não o possuíam. Se formos pensar na cantora Beyoncé como autora da música, podemos associar que ela é muito afetada por essas imposições, principalmente por ser uma figura pública. Com a forte influência da mídia, vemos constantemente mulheres consideradas “perfeitas” atuando, cantando e participando de programas de tv, como se os únicos valores associados a elas fossem puramente a beleza exterior. Somos expostos dia após dia à propagandas e anúncios em todas as redes sociais, para comprarmos algo “milagroso” para emagrecer, fazermos cirurgias plásticas, lipos, e tudo aquilo que nos faça nos aproximar do padrão, como é dito na música “[...] cabelo loiro, seios pequenos. A TV diz “quanto maior melhor” [...] A Vogue diz que mais magra é melhor [...]”. As blogueiras e influencers postam fotos e mais fotos mostrando corpos perfeitos, dentes brancos, peles impecáveis e sem marcas, nos fazendo sentir cada vez mais inferiores.

Para finalizar, temos as formações imaginárias,​ que são suposições que podemos fazer acerca do texto apresentado. Assim como tudo o que acabei de citar, as formações imaginárias que farei, podem ser diferentes de pessoa para pessoa, e isso é resultado do tipo de leitura que cada um faz do conteúdo. Além disso, devemos levar em conta as vivências dos leitores para a produção de cada formação imaginária.

Na imagem que ela faz sobre si própria, temos a cantora Beyoncé que, como já foi dito, além de ser mulher, é exposta à diversas imposições de beleza. Por conta disso, acaba possuindo lugar de fala sobre o assunto. Na imagem do ouvinte a respeito do sujeito, eu, como mulher também, entendo exatamente o que está sendo citado na música, e por isso, consigo me colocar no lugar da miss que fala sobre seu dia a dia, mesmo não exercendo essa profissão. Já na imagem do ouvinte em relação a quem lhe fala, é a de empatia, pois mesmo que ela seja uma cantora, fora dos palcos tem uma vida comum como a dos ouvintes, então consegue entender como é. No ponto de vista de quem fala o referido discurso, concluímos que ela tem consciência do que ocorre no cotidiano das mulheres, por isso existe uma crítica a esses padrões impostos. Finalmente, sobre o que ela (música) está me falando, observamos como é a vida das mulheres que trabalham como modelos/ misses, e assim, entendemos que não existem fatores positivos a respeito do padrão de beleza, apenas uma busca constante por algo inalcançável.

Disponível em: https://incrivel.club/inspiracao-mulher/como-mudou-o-padrao-de-beleza-feminino-nos-ultimos-60-anos-216210/

Nesta imagem, temos dois exemplos de modelos de corpos considerados como padrão.

Disponível em: https://deolhonosdados.wordpress.com/2018/06/23/o-lado-nao-tao-perfeito-da-perfeicao/

Já nesta, temos algumas das consequências dos padrões.

Finalizando esta postagem, gostaria de reiterar minha intenção inicial, que seria a de transmitir pelo menos um pouco do que aprendi nesse tempo e afirmar que todo esse conteúdo nos faz refletir muito acerca da visão que sempre tivemos impostas na sala de aula. Desse modo, como futuros professores, podemos tentar de certa forma sair um pouco do habitual, para que a leitura, que é algo mágico quando feita por prazer, esteja cada vez mais presente na vida de nossos futuros alunos.