Ensino e Discurso

A leitura como forma de produzir sentidos

Saiba quais são as práticas de leitura e como se dá o processo de produção de sentidos

05-02-2021Por: Raynara Aparecida Lopes Souza raynaralsouza@gmail.com (Aluna do Curso de Letras - Português)Orientador: Pedro Navarro

Quando estamos no ensino médio, surgem inúmeras dúvidas sobre o que cursar, junto com a dificuldade de escolher para qual área ir: exatas, humanas, biológicas ou linguagens. Tendo em vista que muitos alunos do Ensino Médio não apresentam grande conhecimento sobre o curso de letras e que alguns demonstram interesse em cursá-lo, mas, mesmo assim, não sabem muito bem sobre o que se trata, irei expor, no decorrer deste texto, o que podemos entender por leitura, apresentar quais são as práticas de leitura e como se dá o processo de produção dos sentidos.

Entende-se por leitura o processo de produção de sentidos mediado pela interação entre autor/leitor/texto. É importante ressaltar que o texto é qualquer forma de manifestação da linguagem humana, seja um discurso cinematográfico, uma propaganda ou, até mesmo, um meme do Facebook. Essa produção de sentidos é dada por meio de um processo não visível para o leitor e é exatamente nesse momento que entram as práticas de leituras. Tendo em vista que as práticas de leitura contribuem para a produção de sentidos, aqui serão abordadas as quatro práticas sugeridas pelo professor João Wanderley Geraldi.

A prática de leitura busca de informação leva o leitor à procura de informações específicas dentro do texto, o que resulta na fixação dos conceitos mais relevantes. Esse tipo de prática também conduz o leitor a essa busca em diferentes gêneros textuais e exercite a sua capacidade de realizar interações entre um texto e outro.

A leitura estudo do texto vai além da busca de informações, uma vez que se atenta às teses, aos argumentos e aos contra-argumentos trazidos pelo texto. O uso dessa prática proporciona ao leitor a possibilidade de verificar se há coerência entre as teses e os argumentos dentro do texto. No caso de textos ficcionais, por exemplo, o leitor pode realizar um estudo a partir dos posicionamentos das personagens.

A prática pretexto é aquela que estimula o leitor a produzir um texto a partir de outros textos, quando ele produz hipóteses e começa preencher as lacunas desse texto. Essa prática proporciona inúmeras possibilidades diferentes de interlocuções, posto que cada leitor parte de um pretexto diferente.

Na leitura fruição há o “desinteresse” pelo controle do resultado da leitura, uma vez que essa prática é, geralmente, excluída pela escola. Com a fruição resgata-se o prazer da leitura, o ler por ler, não o ler apenas para responder às questões da prova. Tal prática desperta no leitor interesses pelos assuntos discutidos e a “viajar” enquanto lê.

O professor Ezequiel Theodoro da Silva traz uma outra discussão a respeito das práticas redutoras de leitura, que, segundo ele, são simplistas e desprezam elementos fundamentais. É importante ressaltar que as concepções que serão apresentadas não devem ser abolidas, mas, sim, usadas com cuidado e sem excesso para que não seja boicotado o processo de produção de sentidos.

A concepção de que ler é traduzir a escrita em fala reduz-se à ação de apenas oralizar o texto. Ver a leitura somente por essa concepção formam os chamados “alunos papagaios”, que só repetem os discursos trazidos pelo texto. Isso não significa, necessariamente, que o aluno realmente compreendeu tudo o que foi abordado.

A concepção de que ler é decodificar mensagens reduz o ato de ler apenas em receber as informações ditas no texto, sem que o leitor se empenhe em refletir e posicionar-se a respeito do que foi abordado.

A concepção de que ler é dar resposta a sinais gráficos reduz-se à ideia de ler com o único objetivo de produzir uma resposta “correta” e essa resposta corresponde à esperada pelo professor. Nesta concepção, desprezam-se as várias possibilidades de interpretações que um mesmo texto pode ter.

A concepção de que ler é extrair a ideia central também é bastante problemática, uma vez que o aluno vê como único propósito da leitura localizar a ideia central do texto e, muitas vezes, ela não aparece de forma tão explícita, mas aparece implicitamente, no início ou meio do texto.

A concepção de que ler é seguir os passos do livro didático faz a leitura se tornar algo sincronizado, em que se precisa seguir uma sequência específica: 1º ler o texto; 2º sublinhar as palavras desconhecidas; 3º verificar o vocabulário; 4º responder um questionário de compreensão/interpretação; 5º responder perguntas sobre gramática; 6º realizar uma redação. Essa sequência padronizadora restringe o leitor a olhar para o texto de uma forma muito motorizada, fazendo que ele siga sempre a mesma sequência de leitura.

A concepção de que ler é apreciar os clássicos também tem seus problemas, uma vez que o leitor maduro e bem resolvido é capaz de ler inúmeros textos e “passear” por diferentes gêneros. É indiscutível a relevância dos clássicos, o leitor deve sim apreciá-los, mas não devem perder de vista os outros tipos de textos.

Outro aspecto que faz parte do processo de produção de sentidos são as condições de produção do texto, as quais dizem respeito ao sujeito, à situação, à memória e às formações imaginárias. Para compreender melhor esse processo, vamos juntos produzir sentidos a partir da charge abaixo, levando-se em conta as suas condições de produção.


Link: https://blogdoaftm.com.br/charge-desemprego/

Blog: www.blogdoaftm.com.br

Sujeitos: os animais que vivem na floresta que atualmente são prejudicados pelas queimadas e os homens ligados ao agronegócio.

Situação: o exponencial aumento das queimadas na região do Pantanal no ano de 2020, quando comparado ao ano de 2019 e a quantidade de animais silvestres que foram mortos e prejudicados pelas queimadas no Pantanal.

Memórias: Quando pensamos nos animais que moram nas florestas, automaticamente vem a nossa memória o perigo que eles podem causar aos humanos e, na charge, o animal apresentado é uma onça, animal que, de acordo com as nossas memórias, causa espanto e medo. A charge, entretanto, mostra que, na verdade, o “animal” mais perigoso do pantanal é o homem, visto que, além de colocar a vida dos animais em risco, ele também coloca a vida dos próprios seres humanos.

Formações imaginárias: Aqui, temos a imagem que o próprio homem faz de si mesmo, a imagem daquele que sempre tem razão e que queima em prol do agronegócio. Também é possível que o leitor crie uma imagem a respeito do chargista, como sendo uma pessoa que é contra as queimadas no Pantanal e vê o homem como um ser perigoso, que não se importa com a vida animal nem humana.

Tendo em vista tudo o que foi abordado sobre o que se entende por leitura, compreende-se que a leitura como produção de sentidos envolve inúmeros processos e três deles foram apresentados nos parágrafos anteriores. Portanto, podemos entender a produção de sentidos como um produto e as práticas e as condições de produção de leitura como um processo. Logo, conclui-se que o produto é o resultado de um grande processo não visível para o leitor.