Nós escolhemos o caminho menos trilhado – e isso fez toda a diferença

Um adeus e um olá

Quando fazemos um concurso público para a carreira de docente em uma universidade pública carregamos conosco o ideal de ensinar: ensinar conteúdos, dialogar, promover debates, fazer pensar, suscitar pensamento crítico, pesquisar, isto é, ensinar o outro a ser o profissional mais competente possível. Entretanto, ao adentrar a universidade nos deparamos com uma lista interminável de outras funções que praticamente desconhecíamos existirem dentro do âmbito acadêmico: fazer relatórios, participar de bancas e comissões, comparecer a reuniões infindáveis, preencher formulários, assumir cargos administrativos e.... segurar as pontas!

As funções administrativas e/ou pedagógicas desafiam-nos a todo o momento, seja por consumirem o nosso precioso tempo, seja porque exigem nossa constante atenção e estudo. Para podermos desempenhá-las com esmero e precisão, temos que abdicar de muitas outras coisas, dentre elas, parte de nossas aulas – a cereja do bolo da função docente na universidade. Vale lembrar que muitos colegas de profissão preferem não aceitar tal desafio, pois sabem que terão que viver os próximos anos dividindo-se entre as funções corriqueiras da vida docente e todas as obrigações exigidas do cargo em que está no momento.

Recém chegados na universidade, nós decidimos aceitar o desafio de nos tornarmos coordenadores do curso de Letras durante os anos de 2018 à 2020 e, acima de tudo, fazer um trabalho nunca antes realizado no curso. Escolhemos um caminho menos trilhado. Éramos (somos) ambiciosos quando falamos do nosso curso. Não podia ser apenas uma coordenação seguindo as regras by the book, tinha que ir além, tinha que fazer a diferença para alunos, professores e sociedade. Pronto, que comecem os jogos!

Assim, unindo nossos esforços e conhecimentos, arregaçamos nossas mangas e começamos. Foi tímido no começo, ler regimentos, tatear em busca de documentos, participar de reuniões em âmbito departamental, de centro e de UEM como um todo, atender alunos e professores com seus problemas e questionamentos, ler mais documentos, correr os órgãos da UEM pedindo ajuda e orientação. Ufa, ficamos cansados... mas estávamos só começando.

Nosso primeiro grande desafio foi estabelecido quando tivemos que preparar no mês de agosto, cerca de 2 meses após a nossa posse, a Mostra de Profissões da UEM. Que trabalhão que foi! Mas somos privilegiados e trabalhamos com os melhores professores e nossos queridos alunos que nos ajudaram em cada mínimo detalhe. O resultado foi a melhor mostra que Letras já fez. Foi tão divertido que nem pareceu trabalho no final, estava mais para party time. Muitas fotos e risadas nesse dia, ahhh e muito café, também!

Já no final de 2018, fizemos o nosso primeiro evento – abrimos com chave de ouro - Reflexões da Letras no Dia da Consciência Negra. Acreditem, foi a toque de caixa: pensamos num dia e no outro lá estávamos nós correndo atrás de professores, alunos e ex-alunos, elaboração de projeto, locação de espaço, equipamento e tudo o que poderia ser necessário para que o evento atingisse o objetivo – fazer pensar! O evento foi uma grata surpresa, pois pudemos contar com pesquisadores de peso e de apresentações artísticas inesquecíveis, mas, principalmente, com a participação em massa de nossos alunos e professores.

Não pensem que paramos por aí, 2019 foi O ano! Criamos um site. Sim! Nós criamos um site para o curso de Letras sem a ajuda de ninguém e com muitas dificuldades para ajustarmos detalhes muito simples, mas que a instituição burocratizava. A Graduação em Letras, nome que escolhemos para o nosso site, tinha o objetivo de divulgar tudo o que a Letras da UEM tinha a oferecer para a comunidade interna e externa, além de manter o alunado informado sobre tudo o que estava acontecendo no curso e na UEM como um todo. O site cresceu e vimos que era necessário pedir ajuda de nossos alunos para que o bom trabalho continuasse. Elaboramos um projeto de extensão, o Letras na Web, que contou com a disposição e auxílio dos nossos alunos. Eles passaram a nos ajudar a escrever notícias, divulgar e correr atrás das informações mais fresquinhas para todos que quisessem dar uma espiadinha no site.

Só que o site era muito pouco ainda... precisávamos atingir as redes sociais! E o fizemos. Inauguramos a Coordenação Letras Uem no Facebook – blogueirinha ela! – Assim, no início do ano letivo em 2019, a Letras estreou no Facebook com muitos memes e informações para os professores, veteranos e calouros. Ahhh, os calouros! Sedentos de conhecimento, de reconhecimento, de incentivo.... eles foram nossa preocupação e motivação também. Elaboramos eventos de recepção a eles sempre pensando em integrá-los e encantá-los. Contamos com a colaboração de nossos colegas de trabalho para proferirem palestras sobre o curso. Eles fizeram a diferença! Trouxemos arte: nossos alunos, ex-alunos e professores declamaram poesias, cantaram tocaram instrumentos; envolvemos o Centro Acadêmico de Letras Machado de Assis (CALMA) para promoverem a interação entre os calouros e os veteranos; palestramos sobre o funcionamento da UEM e nos dispusemos a ouvir cada um desses estudantes (veteranos e calouros) em suas ansiedades, dificuldades e aspirações.

Ainda em 2019 fizemos mais dois eventos de extensão para o curso de Letras, um sobre os povos indígenas e outro sobre a saúde mental, sempre trazendo especialistas e alunos/ex-alunos para falarem de suas experiências e estudos das respectivas áreas. Destas vezes, já mais experientes com eventos, atingimos um público maior e enfrentamos menos dificuldades. O resultado foi melhor que o esperado. Nossa ânsia de ir além estava sendo correspondida e, o melhor de tudo, a correspondência vinha dos nossos alunos, principalmente. Víamos aquele brilho que todo professor adora ver nos olhos de seus alunos. Estava dando certo!

Enquanto promovíamos eventos, atendíamos os alunos e professores presencialmente, via e-mail, WhatsApp, Facebook, durante as aulas, nos finais de semana, à noite....; participávamos de diversas reuniões de Câmara Interdepartamental, de Fórum das Licenciaturas, da CUIA Ampliada, de Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEP); também reelaboramos o projeto pedagógico do curso e continuávamos com nossas aulas na graduação, pós-graduação, pesquisas e tantas outras coisas. Não tivemos muito descanso, não.

Em 2020, muito animados com nossa caminhada, chegou a COVID-19 e, com ela, o ERE. Novos desafios, novas configurações, novas lutas. Lutamos arduamente para que o acesso a um ensino de qualidade fosse garantido aos nossos alunos. Questionamos, brigamos, nos tornamos a pedra no sapato de alguns, mas não abrimos mão de nossos princípios. Assim terminou nossa caminhada. Cada passo foi uma grata surpresa! Nos aproximamos dos alunos, dos professores, abrimos o diálogo, oferecemos conteúdos e sim, fizemos do nosso jeito, um jeito nunca antes visto! Nós escolhemos o caminho menos trilhado – e isso fez toda a diferença!

p.s. Já acabou? Não... está longe de acabar. Apesar de não estarmos mais na coordenação do curso que tanto amamos, não vamos ficar parados. Isso definitivamente não combina com a gente. Somos pop! Somos parceiros e parceiros não costumam se separar! Hoje inauguramos uma nova etapa no curso de Letras, o Mastigando Letras, um site que vem coadunar nosso sonho de publicar as produções de nossos alunos para e por eles. A gente espera que vocês gostem! Vamos mastigar!