Editorial

Lições de nosso tempo

Pelo fortalecimento e pela democratização da ciência

20-08-2021Por: Érica Fernandes Alves e Hélcius Batista PereiraDocentes do Curso de Letras/UEM e Coordenadores do Mastigando Letras

Iniciamos em agosto o ano letivo de 2021 na graduação da UEM e o Mastigando Letras, projeto de extensão sob nossa coordenação, caminha para completar o seu primeiro ano. Estamos felizes porque até agora encontramos um bom acolhimento de nosso público leitor - toda a comunidade externa e interna relacionada a nossa Universidade. Essa boa recepção do nosso projeto é o resultado esforço da equipe fixa de nossos alunos (que editam e publicam os conteúdos) e da disponibilidade de um grande número de outros alunos que enfrentaram o desafio de serem autores dos textos do site, sempre orientados por um dos docentes dos departamentos do curso de Letras da UEM.


O desafio do Mastigando Letras é o de democratizar os conhecimentos circulados e produzidos na academia sobre Língua e Literatura. Isso porque acreditamos que a ciência deve ser parte da vida de todas as pessoas.


A pandemia, de certo modo, exigiu que muitos meios de comunicação tivessem que adotar um discurso que sempre acreditamos e no qual nos baseamos ao conceber o projeto do Mastigando Letras. Buscando combater o negacionismo e as notícias falsas, ambas a favor do vírus que se disseminou entre nós, diariamente ouvimos de jornalistas e comentaristas dos mais variados meios de comunicação a máxima de que devemos “acreditar na ciência”, incorporando em nossa vida os seus achados, abandonando as crenças infundadas, já comprovadamente refutadas pelo método científico - um método que vai além da mera opinião (do “eu acho”) e que se apoia em dados analisados criticamente - e não em (pré)conceitos não testados ou avaliados de forma não rigorosa.


Se o negacionismo e as fake news encontram espaço em nosso mundo é justamente porque são eficientes em algo que nem sempre a Universidade faz bem: a difusão de seus discursos. Se por um lado, a turma contrária à ciência distribui suas mentiras e erros de uma maneira massificada, atingindo a todos os públicos, de todos os grupos sociais, por outro lado, as instituições de pesquisa muitas vezes falham nessa comunicação, sendo comum que os pesquisadores não dispõem de tempo para divulgar o que descobrem em seu trabalho árduo.


O vírus da COVID-19 expôs a importância da ciência na vida de todos. E a ciência aqui não se restringe às descobertas da área de medicina e saúde, mas de todas as áreas. Não vivemos sem alimentar nossos sonhos, nossas identidades, nossa capacidade de interpretar o mundo criticamente. E para todas essas necessidades, os achados científicos das Letras têm a contribuir. Daí a importância das pesquisas e dos conhecimentos que mobilizamos atingirem todas as pessoas.


Infelizmente, a ciência de nosso país não encontra nos políticos a relevância que deveria atingir. Os investimentos em todas as áreas do conhecimento, mas especialmente nas humanidades, tornam-se cada vez menores. E os governos atualmente eleitos agem com pressa para desmontar a cada dia o pouco que foi construído em termos de estrutura. O quadro de redução de bolsas de pesquisa, de restrições orçamentárias para universidades e instituições de pesquisa, dentre muitas outras iniciativas, se aprofundou nos últimos anos de maneira perigosa.


É preciso que todos saibam do projeto político de desmonte da ciência no Brasil. É preciso que todos lutem contra essas iniciativas, cobrando de nossos políticos uma reversão dessas ações.


Não adianta posar para foto, no momento da vacina, com um cartaz onde se lê “eu defendo a ciência” e apoiar a restrição orçamentária das universidades. Essa defesa também não condiz com a aceitação do chamado teto de gastos públicos que de forma indiscriminada além de reduzir a estrutura de apoio social do Estado, impede que os recursos sejam alocados de modo otimizado nas áreas prioritárias, como a ciência, a saúde e a educação. Também não adianta nada assim se manifestar e dar os ombros ao assalto que o Estado faz quando desvia recursos que as universidades públicas arrecadam ou recebem de agências e programas de financiamento, alocando somas significativas de dinheiro para outras finalidades, nem sempre favorecedoras do bem estar da população - e o Estado do PR faz isso há anos, sem que a sociedade em geral conteste, com a chamada DREM.


Ciência não é gasto. É investimento que protege e beneficia a vida das pessoas.


Defender a ciência é defender as instituições e as pessoas que fazem ciência. É o que nós defendemos. E convidamos a todos para fazer o mesmo.