Editorial

7 mulheres negras brasileiras inspiradoras

21-11-2022Por: Anna Clara Gobbi dos SantosAluna da graduação em Letras Português-Inglês

Não é segredo que as mulheres, sobretudo as negras, enfrentaram – e ainda enfrentam – obstáculos para que suas vozes sejam ouvidas. No Brasil, muitas vezes, o protagonismo delas foi negado e passaram a ser coadjuvantes da história que elas mesmas escreveram, fragmentando, consequentemente a nossa própria tradição, origem e cultura. Nesse texto, vamos resgatar a história de 7 brasileiras que merecem ser lembradas em todas as esferas do nosso cotidiano.

SONIA GUIMARÃES

Nascida em 1957, filha de pai tapeceiro e mãe comerciante, Sonia Guimarães cursou Licenciatura em Ciências na Universidade Federal de São Carlos. Ao finalizar a graduação, o voo ainda era baixo demais: decidiu concluir a especialização em química e tecnologia de materiais. Ingressou no mestrado na área de Física Aplicada. Fez doutorado em Materiais Eletrônicos pela Universidade de Manchester, na Inglaterra. Sonia, hoje com 65 anos, é a primeira mulher negra brasileira a ser doutora em Física.

MARTA DA SILVA VIEIRA

Quando falamos da personalidade que mais marcou gols na história do país, quem vem a sua mente?

Esse título é da alagoense Marta, que soma, ao todo, 110 gols, e é a maior artilheira que já vestiu a camisa da Seleção Brasileira. Essa marca supera todos os homens e todas as mulheres que pelo time já passaram. Outra conquista da jogadora, nunca vista antes na história do futebol mundial, é ser seis vezes (2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2018) a melhor jogadora do mundo.

CAROLINA MARIA DE JESUS

Carolina é a voz da vulnerabilidade social no país. “Quarto de Despejo” (1960), livro que narra, em forma de diário, o dia-a-dia na favela do Canindé, em São Paulo, foi traduzido para 13 idiomas e distribuído para mais de 40 países. Para ela, “o Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora. Quem passa fome aprende a pensar no próximo, e nas crianças”.

MERCEDES IGNÁCIA DA SILVA KRIEGER

Um dos principais nomes no mundo da arte, Mercedes teve muitos empregos antes de, de fato, atuar como protagonista no movimento de reconhecimento e evidenciação de artistas negros: foi empregada doméstica, operária e vendedora de bilhetes em um cinema. Esse último emprego foi o que a levou para o mundo artístico.

As danças populares eram sua paixão quando ingressou nas aulas da bailarina Eros Volússia. Seguiu com as instruções de dança na Escola de Danças do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde prestou concurso para o balé. Lá, Mercedes se tornou a primeira mulher negra a integrar o corpo de dança.

DONA IVONE LARA

A enfermeira que era contra os eletrochoques e a lobotomia, procedimentos comuns quando Ivone ainda atuava na área, sugeriu à doutora Nise Silveira que criasse um local com instrumentos musicais para desenvolvimento de intervenções baseadas na musicoterapia, tratamento que não tinha reconhecimento na época. Nesse meio tempo, aliava, então, sua paixão pela música com a sede de ajudar o próximo.

Quando se aposentou, dedicou-se exclusivamente à arte. Escreveu cerca de 200 letras de música e foi a primeira mulher a compor um enredo de escola de samba: Os Cinco Bailes Tradicionais da História do Rio, em 1965, para a Império Serrano.

MARIA AUXILIADORA

Precisando abandonar seus estudos, aos 12 anos, Maria Auxiliadora trabalhou como bordadeira e empregada doméstica, mas jamais esqueceu a arte. Não conheceu nenhuma técnica academicista, por isso, desenvolveu a sua própria: os cabelos crespos se juntavam à tinta a óleo e massa plástica para dar vida aos orixás, que conheceu no candomblé, ao samba e a capoeira. Suas obras estão expostas no Museu de Arte de São Paulo.


LÉLIA GONZALEZ

Importante intelectual, militante e feminista negra brasileira. Filha de mãe indígena e pai negro, penúltima filha de uma família de dezoito irmãos, mesmo nascida na periferia de Belo Horizonte, conseguiu, por meio do estudo, furar uma série de bloqueios sociais. Graduada em História e Filosofia e pós-graduada em Comunicação e Antropologia, conseguiu destaque na sociedade e no meio acadêmico brasileiro nas décadas de 70 e 80, mesmo em plena ditadura militar. Sua trajetória, pessoal e profissional, é marcada por muita luta e imensa contribuição aos debates sobre questões de raça, gênero e classe no país, chegando a figurar como um dos verbetes do Dicionário de mulheres do Brasil, da Enciclopédia da diáspora africana.

Essas são, portanto, mulheres que contribuíram para a formação histórica do país. Para além dessa lista, apenas sete mulheres negras brasileiras não bastam para alcançar o reconhecimento. Milhões dessas mulheres nos inspiram todos os dias. Quem é a sua inspiração?